“Tudo o que for preciso”. A frase mais famosa do presidente do Banco Central Europeu (BCE) foi proferida há cinco anos. A 26 de julho de 2012, Mario Draghi disse que o BCE estava disposto a tomar medidas necessárias para salvar o euro e que isso “seria suficiente”. A mensagem foi indireta, mas os mercados perceberam: ia começar o quantitative easing (QE) na zona euro.
“O euro é como uma abelha. Este é um mistério da natureza porque não devia voar, mas voa”, começou por dizer o italiano, na altura, em Londres. “O euro foi uma abelha que voou muito bem durante alguns anos. Penso que as pessoas perguntam «porquê?». Provavelmente havia alguma coisa na atmosfera do ar que fez a abelha voar. Agora, algo deve ter mudado no ar”.
Draghi referia-se à crise financeira que afetava o conjunto das nações com moeda única, onde o aumento das yields das obrigações levou os custos de financiamento dos países periféricos para níveis impossíveis de comportar e a pedidos de resgate.
“O BCE está preparado para fazer tudo o que for preciso para preservar o euro. E, acreditem em mim, será suficiente”, disse o presidente da instituição monetária. A crise da dívida soberana tinha de ser resolvida e Draghi garantia, assim, que ia tratar do assunto.
À metáfora seguiram-se mais de dois anos penosos de expetativa para os mercados. Em 2015, Draghi iniciou o programa de compra de ativos empresariais e governamentais da zona euro que insuflou a folha de balanço do banco central para 2,3 biliões de euros. Em troca, o BCE continuou a pedir reformas estruturais aos países.
As yields das obrigações caíram a pique desde então. Na Alemanha, o benchmark europeu, os juros das obrigações a 10 anos negociavam na altura, no mercado secundário, próximos de 1,5% e chegaram a aproximar-se de 2% no início de 2014. O valor compara com os juros negativos no final do ano passado e com os atuais 0,5%.
No caso de Portugal, a queda é bem mais acentuada. Em julho de 2012, em pleno programa de ajuda externa e vedado de ir aos mercados procurar financiamento, no mercado secundário a dívida portuguesa a 10 anos negociava com juros acima de 11%. Quando voltou a emitir dívida, no ano seguinte, tinham já caído para 7%, mas ainda longe dos atuais 2,9%.
Cinco anos e muitas críticas depois, e apesar da inflação da zona euro continuar a não agradar o BCE, Draghi começa a pensar na saída do “tudo o que for preciso”. Mais confiantes na retoma da economia e no euro, os membros do Conselho de Governadores do banco central, começam a discutir o fim do programa de compra de ativos no outono.
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