O recente encontro em Lisboa entre o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo e o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu colocou o país no centro da atenção da política mundial durante um dia.

Portugal pôde sentir que se encontrava novamente numa posição estratégica que lhe garante a possibilidade de intervir mais no desanuviamento mundial, para além de se sentar à mesa da politicamente correta definição de uma política externa da União Europeia ou de alinhar nos posicionamentos positivos da ONU. A presença na NATO submerge-se no respeito que se tem pelos militares portugueses, mas pela pouca relevância que o país acrescenta à paz mundial ou na minimização de qualquer conflito mundial.

Com a instabilidade habitual no Médio Oriente a agravar-se, desde os sinais de protesto no Iraque, aos movimentos pendulares de ameaça direta e de ação indireta do Irão, passando pelo rescaldo da intervenção sobre o Daesh ou pela aparente acalmia na Síria, a política internacional parece preparar-se para se incendiar novamente. A Rússia está presente em todos os planos, sempre do lado contrário ao politicamente correto. A China, no seu registo habitual e filosófico de quem tem todo o tempo do universo, mostra-se alheada, atenta à oportunidade de aumentar influência como tem feito em África, perante a desistência de todas as restantes potências mundiais.

O mundo ferve em jogos táticos. As potências jogam influências não obstante o aparente desinteresse dos Estados Unidos, que vão flutuando os seus movimentos entre avanços e recuos que pouco deixam antever se estão ao serviço de uma estratégia consistente ou se resultam de manifestações pontuais de stop and go, que deixa muito a desejar do parceiro que, depois da Segunda Guerra Mundial, todos passaram a respeitar e julgavam poder contar.

Lisboa, tendo sido escolhida para este encontro, demonstrou que é mais do que uma cidade encantadora. A cidade, o país, como antes os Açores, podem voltar a ser o centro de decisões vitais para o encontro entre líderes de países. Podemos unir os nós górdios do mundo entre América do Norte e América Latina, Europa e África, e particularmente na bacia do Mediterrâneo. Podemos ser ponto de encontro para países de topo com interesses cruzados em zonas não distantes, pois temos estado milenarmente na porta do oceano que liga continentes, interesses e povos.

Temos o reconhecimento internacional da boa ligação com a CPLP, exemplo da boa relação entre territórios que se tornaram independentes sem que daí resultem traumas ou tentativas de manutenção de alguma superioridade. O pacifismo do país – o que não significa desalinhamento, negligência ou desatenção – tem promovido portugueses a cargos internacionais relevantes, onde têm demonstrado preparação e sabedoria na forma como tratam os assuntos que lhe são confiados.

Este reconhecimento deveria levar a que os governos portugueses assumissem um papel mais preponderante enquanto tal, nas organizações de que fazem parte, assumindo posições mais significativas e arriscadas nas decisões, ao invés de aparecerem de forma cinzenta e perdidos em ‘fotos de família’.

A chamada de atenção para Lisboa neste encontro bilateral pode proporcionar uma chamada de atenção para a centralidade do país e dos políticos portugueses que se perdem excessivamente em questões internas, mostrando-se pouco preocupados com as questões do mundo onde também vivem. As decisões internacionais condicionam-nos. Em função disso devemos mostrar que somos mais do que história.