Quando em 2015 a direita se indignou contra a coligação negativa que o PS congeminou, alheio à vontade de 70% dos portugueses que votaram no PS e PSD, chamou-lhe geringonça. O PS, hábil na mensagem (com uma talentosa Mariana Vieira da Silva), preferiu abraçar o termo, acrescentando-lhe funcionalidade. Geringonça sim, mas uma que funcionava.

Eis-nos a poucos meses das legislativas e a geringonça continuou a funcionar e é hoje a primeira opção dos portugueses que querem tudo menos a direita, segundo as sondagens conhecidas esta semana. Preferem o PS. E mesmo que este não ganhe, preferem que seja este a formar governo. Eis o mais relevante desta sondagem e o murro no estômago da direita, que já não poderá acusar António Costa de usurpação de poder, de esquemas parlamentares para chegar à governação.

A geringonça já não é geringonça. A geringonça é um motor resistente que funciona até sem o óleo que não existe entre os três partidos que a compõem. Há Sócrates no atual Governo. Há Robles no atual esquema de governação. Há nepotismo. Há mais impostos. Há mais dívida. Mas nada disto importa aos portugueses que antes oscilavam entre PSD e PS.

Pela primeira vez, a esquerda surge com o rosto da responsabilidade financeira e o PSD viu-se despido do traje que lhe restava depois de defender uma classe (professores) contra os portugueses. E, pela primeira vez, a maioria dos portugueses quer a esquerda.

Quanto tempo até que a direita saia do beco em que se colocou? Quanto tempo até que recupere o seu projeto para Portugal? Quanto tempo até que saia da arena que o PS domina – o Parlamento – e venha dizer ao que vem, com coragem? Que quer a direita para a Segurança Social? Que Constituição quer a direita para o país? Que legislação laboral quer para um país dos salários mínimos? Que projeto de desenvolvimento económico tem?

Que sistema político defende? Que país quer oferecer aos jovens, ao talento nacional? Como é que vamos dotar as crianças e os jovens das novas competências que esta nova era exigirá deles já amanhã? Enquanto o PSD se mantiver refém dos votos da função pública, não terá os de quem via neste partido o justo equilíbrio do liberalismo económico e da solidariedade social.

Este fim de semana teremos eleições europeias, cuja votação pouco dirá do que queremos para a Europa e para Portugal, já que hoje como nunca sabemos que são as duas faces da mesma moeda. Dirá antes duas coisas: por um lado, que temos relações clubísticas com os partidos, acríticas e superficiais, porque a campanha nada revelou do plano de cada um dos candidatos para um eventual mandato em Bruxelas (ou renovação). Por outro lado, que nos estamos a borrifar para as Europeias, algo que veremos nos números da abstenção.

Relevante deste fim de semana será a avaliação que os portugueses fazem da geringonça e da oposição. E se as sondagens estiverem certas, está na altura de voltar a falar a quem continua à espera de um país com futuro.