Pedro Passos Coelho é, porventura, um dos políticos menos populares dos últimos anos. Tido como portador de más notícias, foi, todavia, um reformista, nomeadamente no que se refere à transparência que incutiu na comunicação das medidas que foram aplicadas pelo seu governo.

Condicionado pela troika, nunca, em sede de concertação social ou perante a opinião pública em geral, deixou de fazer questão de anunciar, ou pedir aos membros do seu governo que anunciassem, uma por uma, as medidas que iriam defraudar expetativas eleitorais ou implicar constrangimentos profundos à vida dos portugueses. Implementando uma espécie de “glasnost” à portuguesa, goste-se ou não, foi de tal forma claro e direto, que até os seus apoiantes se questionavam se o governo PSD/CDS tinha uma adequada assessoria de imprensa.

Foi assim quando anunciou os cortes dos vencimentos da função pública; foi assim quando anunciou a criação da sobretaxa no IRS; foi assim quando introduziu a derrama estadual no IRC; foi assim quando anunciou o aumento do IVA para a eletricidade e restauração; e foi assim quando anunciou que a estratégia do seu governo passaria pelo fomento das exportações e pela atração do investimento direto estrangeiro, ao invés da aposta no crescimento da procura interna.

Acusado de ir “além da troika”, nunca fugiu a responsabilidades. Assumiu, com sentido de Estado, os ónus sobre a sua popularidade, clarificou os impactos para as famílias e, mais importante, na minha opinião, aplicou com “mão de ferro” medidas que previamente anunciou, garantindo o adequado funcionamento dos serviços do Estado e a sustentabilidade das contas públicas.

E fê-lo de tal modo que, ainda hoje, retirado da vida política, os seus adversários fazem questão de o trazer de volta à arena política para disfarçar medidas populistas que teimosamente não conseguem implementar, ou o aclamado “fim da austeridade”, anunciado com pompa e circunstância, que resiste perante a realidade dos factos e, em particular, dos constrangimentos orçamentais.

Os apparatchik da esquerda portuguesa, verdadeiros “agentes do aparato”, movimentam-se entre diferentes áreas de responsabilidade com petulância e, sobretudo, pouco conhecimento da matéria de facto. Cegos pela causa e leais ao “criador”, procuram dissimular o funcionamento dos serviços do Estado com notícias virtuais de realização de obra pública (veja-se as notícias de eletrificação da linha do Douro) ou de promessas de descongelamentos de evolução na carreira, enquanto, de forma evidente e com grande estrondo, falham todos os serviços mínimos a ser assegurados pelo Estado, como sejam a segurança, a proteção civil, os transportes, a saúde e a previdência.

O melhor exemplo prático da sua movimentação foi a escolha do novo ministro da Administração Interna, depois da gravidade dos acontecimentos do ano passado. Não está em causa a pessoa mas a motivação da sua nomeação, eminentemente de gestão do problema político e muito pouco de resolução do problema de facto.

Ainda que na esfera do parceiro de “geringonça”, a cereja no topo do bolo foi a rejeição do credo apregoado no caso Robles. A demonstração clara da falência mais básica da ideologia do sistema de economia de planificação central, defendida por marxistas, leninistas e trotskistas e que esteve na origem da queda da ex-URSS.

A perceção clara e inequívoca do momento em que a elite selecionada dos apparatchik não resiste à tentação de fazer um ‘establishment’ de privilégios, furando a fila e reivindicando de forma dissimulada um padrão de vida tão bom ou melhor do que qualquer capitalista. A diferença é o entendimento de que este padrão de vida é apenas para esta “nata” e não pode (nem deve) estar disponível ou ao alcance de todos. Pior. Para garantirem essa “nomenclatura”, levam os países à ruína.

E não precisamos de nos concentrar no caso português. Atente-se ao exemplo claro da Venezuela, tão apregoado por socialistas e comunistas, e verifique-se a miséria em que vive a população de um país que no início da década de 90 era dos mais ricos da América do Sul.