Se perguntar a alguém onde é produzido um iPhone, talvez a maioria lhe responda que é nos Estados Unidos da América. Ou na China. Contudo, se consultar a lista de fornecedores disponibilizada pela Apple, vai perceber que o processo produtivo envolve muito mais do que isso: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Camboja, China, Coreia do Sul, Costa Rica, EUA, Filipinas, França, Holanda, Índia, Indonésia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Malásia, Malta, México, Noruega, Reino Unido, República Checa, Singapura, Tailândia, Taiwan e Vietname.

Impressionado? A isto chama-se globalização. E o crescente fenómeno de globalização tem, claramente, benefícios. Mas e quanto ao outro lado da moeda?

Quando um país sofre um choque, este tende a propagar-se às restantes economias, dependendo do seu peso relativo na economia mundial. Segundo o “World Economic Outlook” publicado em abril pelo FMI, a tendência de desaceleração da economia mundial verificada em 2018 prolongar-se-á em 2019, principalmente devido à tensão comercial entre os EUA e a China, às tensões macroeconómicas na Argentina e na Turquia, às perturbações no setor automóvel na Alemanha e às políticas de crédito mais rígidas na China. Em 2019, o crescimento económico global deverá abrandar para 3,3%.

O “Global Financial Stability Report” do FMI, também publicado em abril, alerta para o aumento do preço das habitações tanto em economias desenvolvidas como em economias emergentes, o que reflete a maior sincronização dos preços da habitação, a qual pode indicar a presença de riscos sistémicos negativos para a atividade económica global.

Mais de dois terços das quase 50 crises bancárias nas últimas décadas foram precedidas por uma expansão e subsequente queda no preço das habitações: veja-se a crise financeira de 2007/08. Embora com origem nos EUA, esta crise tornou-se global, afetando também Portugal, que sofreu uma grave recessão económica – mais um efeito da globalização.

Adicionalmente, a globalização tem o seu papel na intensificação das desigualdades. Os trabalhadores recebem salários cada vez mais baixos e os proprietários dos meios de produção ou acionistas recebem cada vez mais lucros. Isto porque a globalização está associada à proliferação das multinacionais, cujos trabalhadores tendem a aceitar piores condições salariais com receio que as empresas se desloquem para locais onde os salários sejam menores, perdendo assim os seus empregos.

A subida do preço das casas tem o mesmo efeito. Quando as famílias compram casa, recorrem sobretudo ao crédito, o que aumenta o seu endividamento. Com preços mais elevados, maior o endividamento. Por sua vez, quanto maior o endividamento, menor o poder de negociação salarial das famílias que, não querendo ser despedidas, se sujeitam a piores condições salariais porque têm prestações a pagar ao banco.

Os efeitos da globalização são muito vastos. Apesar de permitir o acesso a tecnologias mais avançadas, torna as economias mais vulneráveis, potencia a desigualdade na distribuição dos rendimentos e chega inclusive a comprometer o ambiente.

O que pesa mais na balança da globalização: os ganhos ou as perdas?