Portugal é hoje uma referência na área dos serviços partilhados, operados por várias multinacionais e que empregam dezenas de milhares de pessoas. Embora ainda sem contornos bem definidos, a chegada anunciada das gigantes Google e Amazon é mais um sinal do posicionamento atrativo do país.

Esta atratividade resulta de vários fatores, como a existência de boas condições estruturais, clima, segurança, paz social, capacidades em línguas, infraestruturas rodoviárias e de comunicação e quadros qualificados. Contudo, estas multinacionais vão deparar-se com as dificuldades sentidas pelas que já cá estão, nomeadamente no recrutamento de pessoas qualificadas, em particular nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

As causas para este défice de formação tecnológica são várias. Desde logo, o ensino superior que, apesar da sua qualidade, não forma quadros suficientes para a procura em áreas estratégicas. Por outro lado, o quadro comunitário “Portugal 2020” não foi planeado para dar resposta a estas necessidades. Pelo contrário, deslocou verbas destinadas à formação profissional para suportar despesas correntes das instituições do Estado, secundarizando a formação e a reconversão de ativos.

É por isso prioritário reprogramar a área de formação dos fundos europeus e integrar ainda estes desígnios no futuro quadro “Portugal 2030”. É preciso atribuir uma maior prioridade à formação que permita à sociedade e às empresas explorarem em profundidade as oportunidades da digitalização. Incluindo nessa maior prioridade uma componente chave de reciclagem de jovens escolarizados, que atualmente nem estudam nem têm um emprego estável, para essas áreas de competência.

É também fundamental o investimento na qualificação da gestão das PME e microempresas, em particular com programas do tipo “formação-ação”, que permitam diagnosticar e melhorar a sua produtividade e competitividade.

Para isso, há que dar meios ao movimento associativo empresarial, que tem experiência na atividade de formação e está próximo das empresas, através de contratos programa com prioridades bem definidas e devidamente controlados.

Finalmente, não podemos perder a oportunidade da presença de multinacionais tecnológicas e das startups portuguesas para incentivar a ligação e a atividade conjunta ou integrada entre as empresas e o sistema de ensino não só superior, mas também profissional.

Que estas chegadas sejam um incentivo para olharmos a formação e qualificação como um verdadeiro desígnio nacional.