Em 2017 verificou-se, novamente, uma valorização global e acentuada dos activos financeiros, como acções e obrigações, e, também, de outros activos, como o imobiliário e até as agora muito faladas criptomoedas. Nos mercados accionistas houve ainda a destacar o histórico baixo nível de volatilidade, como se pode observar no índice VIX que atingiu o valor mais baixo de décadas.

De repente, e de forma inesperada, desde a passada sexta-feira, quando nos EUA foram apresentados mais uma vez excelentes indicadores económicos relativos ao trabalho e emprego, assistimos a uma correcção brutal nos mercados accionistas a nível global. Os mercados accionistas corrigiram cerca de 10% desde os máximos de final de Janeiro. O VIX atingiu esta terça-feira um dos valores mais altos desde que há registo (49), apenas ultrapassado na grande crise no final de 2008 com a falência do Lehman Brothers e o receio generalizado de que todo o sistema financeiro poderia colapsar.

E coloca-se a questão: porquê? Houve algum colapso do sistema financeiro? Houve algum atentado susceptível de iniciar um conflito à escala mundial? Houve alguma má notícia de alguma economia de algum país? Houve alguma empresa de dimensão global que apresentou falência?

A resposta é não. Aliás, em termos económicos só têm sido apresentadas óptimas notícias nos últimos tempos, pois estamos a viver um crescimento económico sincronizado a nível global como não se assistia há décadas.

Como referi em vários artigos que escrevi nos últimos dois anos, a longa valorização dos mercados accionistas desde 2009 foi uma consequência das políticas monetárias implementadas e mantidas pelos principais bancos centrais nos últimos anos, que contemplam taxas de juro negativas ou perto de 0% e o quantitative easing. Não foram, assim, uma consequência de um desenvolvimento positivo dos fundamentos económicos e empresariais, mas sim de uma manipulação e distorção de preços provocados pelos bancos centrais.

Os principais bancos centrais, com excepção da Reserva Federal, continuam apenas focados num objectivo, que é a subida da taxa de inflação para valores perto de 2%. Com base nesse objectivo mantêm a manipulação dos mercados, não tendo em consideração o que se passou na economia ao nível do emprego e do crescimento, muito menos no que se passou nos mercados financeiros. Teria sido muito mais racional se o tivessem feito e teriam evitado a criação de uma bolha nos mercados obrigacionistas e accionistas.

Note-se agora que se verificou uma acentuada venda global nos mercados accionistas, quando apenas um banco central relevante, neste caso a Reserva Federal nos EUA, prossegue, há mais de um ano, uma estratégia de normalização das taxas de juro e das suas políticas monetárias, política essa de normalização que tudo indica deverá manter ou até acelerar devido aos óptimos dados económicos atingidos.

Imagine-se agora, por exemplo, o que poderá acontecer quando o Banco Central Europeu decidir começar a normalizar as suas políticas e reduzir o seu balanço?

Como concluí em Agosto de 2016, as consequências das políticas mantidas pelos bancos centrais são absolutamente imprevisíveis e potencialmente catastróficas, estando em crer que serão visíveis num futuro não muito longínquo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.