Na sequência da adesão dos três estados bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia, à União Europeia e à NATO, Vladimir Putin ordenou, em 2008, uma intervenção militar na Ossétia do Sul e na Abecásia, territórios da República da Geórgia, reconhecidos pela maioria dos países da comunidade internacional.
Este plano demorou quatro anos a ser concretizado, de 2004 a 2008, por Vladimir Putin, então primeiro-ministro, e Dmitri Medvedev, Presidente da Federação Russa, com quem alternou na cadeira do poder.
No dia 21 de fevereiro de 2022, ao reconhecer a independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, Putin verbalizou aquele que foi sempre o seu objetivo final, a Ucrânia, país que acusa de ser uma “marionete dos EUA” e cuja independência constitui “uma aberração política, histórica e cultural”.
Começa a ser demasiado preocupante esta insanidade beligerante que se está a viver na Ucrânia e na fronteira ocidental da Rússia e da Bielorrússia. Com exceção da guerra na ex-Jugoslávia, estamos perante a mais grave crise do pós-Guerra Fria.
Volta e meia, Putin interfere, invade ou enxerta como quer Estados soberanos que nasceram da derrocada da União Soviética, que colapsou após 1989.
Putin odeia a União Europeia e a europeização dos países que nasceram com a derrocada do Muro de Berlim.
Putin é um líder obcecado com a História no pior sentido, recusa a desagregação da URSS, apesar de a Rússia continuar a ser o mais vasto território do planeta, com 11 fusos horários. Sonha em reconstruir uma Rússia imperial, czarista e, pode mesmo dizer-se, um homem russo novo.
Putin, o CEO das segundas Forças Armadas mais poderosas do mundo, de uma Federação em busca de definição, é um puro narcisista que pode estar a perder a ‘cabeça fria’, com as suas provocações cerebrais, precedida por uma poderosa máquina de propaganda.
Enganador, é capaz de dar a ordem final, nem que seja envenenar inimigos do Estado (não esquecer Alexander Litvinenko) ou ordenar o assassínio de opositores internos e externos (Anna Politkovskaya, Boris Abromovich Berezovsky, Boris Nemtsov são três casos). Será, sem dúvida, pura coincidência o número de diplomatas russos que morreram de forma súbita na última década!
E se nem a Ucrânia nem o Ocidente são uma ameaça à Rússia, Putin é um perigo para o mundo inteiro, que se deixou enfiar numa das suas matrioskas de personalidade. A cada uma corresponde um heterónimo – o cavaleiro de tronco nu, o lutador de judo, o jogador de hóquei em gelo e o incorrigível egocêntrico. Basta ver como humilhou Sergei Naryshkin, o chefe dos Serviços Secretos, durante uma reunião do Conselho de Segurança Nacional.
Os loucos anos 20 deste século estão em ponto flor: depois de uma pandemia natural, uma guerra desnecessária, que começa no controlo psicológico das multidões e dos mercados, na ilusão ótica, mas sempre necessária, promovida pela diplomacia dos Estados e das organizações de segurança.
Por último, não devemos confundir o povo da Rússia com o polvo de Putin e a cleptocracia putrefacta, corrupta e assassina que alimenta o Kremlin. A guerra é também um fim para o regime sobreviver.