Homens e mulheres são naturalmente diferentes e insubstituíveis numa economia que nasce a partir da família, e para a família, enquanto último reduto de liberdade.

Numa sociedade saudável: há espaço para a realização dos talentos individuais, de forma única e insubstituível; não é o nível salarial, nem a presença na linha de montagem, que definem o valor de cada pessoa; não se incentivam ressentimentos, invejas ou reivindicações para usurpar os ganhos alheios; e, acima de tudo, o amor vence as utopias de dissolução e de esterilização das relações humanas. E todas estas observações nos levam necessariamente à família.

O tema da família tem reacendido discussões inflamadas nas últimas semanas, especialmente por ocasião do lançamento do livro “Identidade e Família”, coordenado pelo Movimento Acção Ética. Ao estilo superficial da nossa época, as gentes progressistas apressam-se a fazer caricaturas e distorções sobre as opiniões conservadoras. Perpetuam-se então alguns mitos que incentivam a guerra entre sexos e que denigrem a vida familiar, transformando-a em terreno de sindicalismo e de agitação revolucionária. Foquemo-nos apenas em dois desses mitos.

Em primeiro lugar, o mito de que o Estado deve incentivar a paridade salarial e compensar as mulheres por uma alegada discriminação salarial. Ora, a situação de cada um é produto dos seus talentos inatos, da obra do acaso e das suas decisões individuais, em detrimento de outras, num contexto de escassez.

Ninguém paga menos a uma mulher, meramente por ser mulher, nem se abrem concursos com remunerações diferentes em função do sexo. Aliás, a diferença dos salários médios não se dá tanto entre homens e mulheres, mas sim entre mulheres com filhos e mulheres sem filhos.

E sim, efectivamente, a maternidade penaliza a mulher no mercado laboral, pois exige um recuo da produtividade e uma enorme imprevisibilidade no local de trabalho. Mas, primeiro, isso não é fruto de uma conspiração do patronato contra as mulheres e, segundo, o eventual recuo salarial (por motivos legítimos) só pode ser visto como um problema se o trabalho ocupar um lugar de bem absoluto acima de todos os outros – infeliz a sociedade que subestima o valor incomensurável da vida familiar.

Na obra “Biology at Work”, Kingsley R. Browne apresenta os motivos que justificam as diferenças dos salários médios entre homens e mulheres. Por exemplo, as mulheres têm uma forte aversão a trabalhos que envolvam perigo físico e tendem a evitar trabalhos com rígida exigência horária ou deslocações longas e prolongadas.

A nível de habilidades cognitivas, elas dominam as verbais, mas estão em desvantagem nas matemáticas e espaciais. A nível de temperamento, também tendem a ser menos assertivas e competitivas do que os homens, e valorizam mais o conforto e a flexibilidade do que empenhar horas a fio de devoção à carreira para subir de posto ou alcançar um aumento salarial.

Por mais desagradável que seja enfrentar as consequências das leis da oferta e da procura, é bom estarmos consciente dos custos das nossas escolhas para que estas não sejam feitas na base de fantasias, dando depois lugar a amargos arrependimentos.

Não existe forma sustentável de nivelar artificialmente a remuneração de elementos menos produtivos ou de funções laborais menos valiosas em determinado momento. Claro que as políticas de cada empresa variam consoante os seus valores particulares e há espaço para a generosidade e criatividade dos empregadores na forma como decidem compensar e animar os seus colaboradores. Porém, de um modo global, é impossível exigir que a sociedade pague obsessões com a “paridade de género”, gerando distorções infinitas.

Isto leva-nos ao mito de que não há nada que distinga o papel da mulher na família. Na linha de montagem, talvez todos sejam substituíveis; em família e em sociedade, não são. A mulher é, à partida, pela sua natureza, fértil e geradora de vida.

Ou como argumenta Abigail Favale, em “The Genesis of Gender”, “a especificidade feminina implica, acima de tudo, a capacidade de tecer e manter laços; inclui a capacidade de acolher o que é frágil, e o respeito e reconhecimento do que é forte; envolve uma relação profunda com o que é belo e a liberdade de identificar o que é valioso, independentemente do prestígio social que lhe é atribuído”.

A realização máxima da potencialidade que está inscrita na natureza feminina não implica negar a dignidade das mulheres que deixem essa potencialidade por realizar, força de circunstâncias externas ou por livre vontade. Fazer alusão à maternidade como traço distintivo e exclusivo da natureza feminina não é nenhuma ofensa ou dogma de gente tacanha, é uma simples referência à base da identidade feminina, de corpo e alma.

Ora, quem é que poderá ter motivos para se sentir ofendido com o potencial maternal da mulher? Talvez aqueles que querem apagar aquilo que sobressai por ser uma referência de harmonia, saúde e polaridade sexual. Aqueles que querem desligar a mãe dos filhos, socializar os cuidados, apagar o espaço de afectos e de moralidade na família e forçar a masculinização da mulher e a feminização do homem. Porém, o Estado não pode criar um mundo fictício, um “mundo da barbie” para acalentar uma narrativa ilusória sobre a condição do homem e da mulher e apagar a necessidade de cooperação.

No fim do dia, cada pessoa deve conseguir perceber se está disposta a abdicar do último reduto de liberdade e da dádiva intemporal, em troca de um fugaz prato de lentilhas.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.