Os estudos sobre os conflitos armados apontavam que a realidade africana era a região do mundo onde havia uma maior prevalência de guerras. James Fearon e David Laitin, no artigo ““Ethnicity, Insurgency, and Civil War”, chegaram a contabilizar cerca de 33 guerras civis, na região da África Subsariana, de 1945 a 1999. O elevado número de guerras civis em África acabou por despertar o interesse das mais diversas abordagens académicas, todas elas assentes numa perspectiva pessimista.

Estes dados preocupantes, per se, geraram uma percepção geral de que a guerra é um fenómeno endógeno na realidade africana. Assim, Achille Mbembe, no artigo “Formas Africanas da Escrita de Si”, defendeu que “o estado de guerra na África contemporânea deveria ser concebido como uma experiência cultural geral que configura identidades, tal como o fazem a família, a escola e outras instituições sociais”.

A guerra era vislumbrada, até há pouco tempo, como um fenómeno associado à natureza humana dos africanos e à fraqueza das instituições africanas do pós-independência, gerando até um certo discurso de ilegitimidade dos processos das independências africanas e enfatizando a luta pelo acesso aos recursos naturais. Este tipo de discurso deixou de ser reproduzido quando se procura estabelecer uma análise sobre as causas efectivas das actuais guerras.

Como a guerra já não é uma experiência exclusivamente africana, conforme era propagado na imprensa e até em certos meios académicos, talvez seja, agora, possível compreender a complexidade do fenómeno, olhando, sobretudo, para as suas causas e razões. Porque, excepto no continente americano, que não tem nenhuma guerra activa, mas apenas alguns grupos violentos, os restantes continentes estão a ser assolados por guerras que, certamente, serão capazes de moldar o modus vivendi das comunidades e respectivas instituições.

A expansão da guerra acaba por derrubar certos “mitos” académicos que defendem quase o excepcionalismo africano em relação à guerra. Porque a prevalência desse excepcionalismo torna o saber produzido a partir da realidade africana bastante redutor e insuficiente de explicar as causas da guerra. É, por isso, que Thomas Mkandawire reclamou que “é necessário uma análise mais historicamente contextualizada, com base em experiências africanas e não africanas”.

Para nós, não sendo a guerra uma marca exclusiva de África, seria importante derrubar este mito neste momento de incertezas devido ao estado de guerra que se alastra pelos demais continentes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.