Na sequência de um Conselho Federal caótico, Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, apresentou a demissão. A sua curta liderança, dois anos, foi marcada por três características: maus resultados eleitorais, alterações estruturais ao sistema de partidos em Espanha e incapacidade para gerar entendimentos.
Sánchez obteve os dois piores resultados do PSOE no actual ciclo eleitoral democrático, iniciado em 1977: nas duas eleições em que se apresentou como candidato a presidente do Governo, o PSOE obteve 22,01% e 90/350 deputados (Dezembro de 2015); e 22,63% e 85 deputados (Junho de 2016). Para que possamos ter uma noção da hecatombe, nas eleições de Novembro de 2011, depois de sete anos de governação – três dos quais com políticas de austeridade e aumento do desemprego –, os socialistas obtiveram 28,76% dos votos e 110 deputados.
Num contexto de crise e de desgaste por sucessivos escândalos de corrupção no Partido Popular, no governo desde 2011, emergiram novas formações políticas – Ciudadanos e Podemos – capazes de capitalizar o descontentamento dos eleitorados de esquerda e de direita. O sistema partidário espanhol, tendencialmente bipartidário durante quatro décadas, repentinamente, passou a ser dominado por quatro formações.
Constatada a incapacidade do PSOE para gerar um projecto passível de arregimentar o eleitorado de esquerda (próximo dos 50%), ou sequer de fixar o valor mínimo do eleitorado socialista (28,76%), Pedro Sánchez falhou redondamente na sua atabalhoada tentativa para formar uma maioria parlamentar que permitisse a formação de um governo alternativo. O líder socialista apostou tudo na impopularidade de Mariano Rajoy, considerando que isso seria suficiente para que os “novos” partidos viabilizassem um Governo socialista.
Foi esse o grande erro de Sánchez: a política espanhola mudou muito. A clivagem ideológica clássica (esquerda/direita) passou a partilhar o espaço político com outras duas clivagens: a identitária – que opõe os partidários de uma Espanha unificada aos que defendem o direito de catalães e bascos a decidir sobre uma eventual independência; e a geracional – que põe frente-a-frente “velhos” (PSOE e PP) e “novos” (Podemos e Ciudadanos) partidos.
Para que o governo alternativo a Rajoy funcionasse, os socialistas seriam obrigados não a uma mas a três quadraturas do círculo: unir na mesma base parlamentar partidos de esquerda e de direita (PSOE/Podemos e Ciudadanos), partidos espanholistas e não espanholistas (PSOE/Ciudadanos e Podemos) e velhos e novos partidos (PSOE e Podemos/Ciudadanos).
Se, ao fim de oito meses, o secretário-geral do PSOE não conseguiu passar a mensagem ao próprio partido (barões regionais e sector histórico), convencer as outras formações e a opinião pública revelou-se impossível. Sánchez acabou, assim, por ser o garante da continuidade no poder de Rajoy, um dos piores governantes da Espanha democrática.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.