Em plena campanha eleitoral aumenta a expectativa sobre as propostas a surgir. Até agora, a imaginação dos comprometidos com o poder é muito limitada. O PS e seus aliados parecem presos à narrativa das legislativas e não tem uma ideia nova sobre a Europa. É o preço do comprometimento com a estratégia governamental e o compromisso com o situacionismo europeu. Não tem rasgo, iniciativa, novidade ou apelo. E isso vê-se nas sondagens para as europeias onde a geringonça perde dimensão. Quer seja por fragilidade do cabeça de lista socialista, ou frustração perante uma governação cinzenta e sem chama e que pode ser aproveitada por um perigoso discurso extremista.
As sondagens sobre as eleições europeias traduzem este sentimento de negação sobre a falta de convicções partidárias. O afastamento dos centros de decisão dominados por burocratas e a degradação da imagem da Europa desunida, alimentada pela situação britânica e a erosão causada pelos extremismos e populismos, vão traduzir-se numa reduzida taxa de participação eleitoral e num resultado final pouco esclarecedor sobre as opções europeias.
A responsabilidade é dos partidos. Não existe um facto mobilizador na Europa. A miragem de bloco económico que fizesse frente aos restantes atores mundiais desapareceu. Enquanto americanos, russos e chineses são firmes no discurso e claros na estratégia, as instituições e os governos europeus perderam-se na gestão dos problemas internos sem assumir posições claras e firmes de uma solução unificadora.
Tal contagiou e estendeu-se às políticas nacionais e às propostas internas. Os partidos tradicionais nada oferecem de rutura e de referência para que se tornem eleitoralmente atrativos, o que os partidos novos e extremistas apreenderam e concretizaram com muita demagogia e o encanto da novidade.
Multiplicam-se os exemplos da esquerda à direita, uns aproveitando as sucessivas crises, outros assentando a sua oferta num marketing agressivo, colorido e apelativo. Com recurso a meros fatores de notoriedade ou a elementos de contestação social e política extrema e propostas inexequíveis, mas aceites pelo eleitorado. Assim elegemos atores diletantes e não estadistas.
Os partidos de poder, principalmente do centro, mostram-se incapazes de sair do seu registo cauteloso e preocupado, e correm sério risco de desgaste e de perdas significativas nas eleições europeias e subsequentes.
Exemplos em Itália, com o Movimento 5 Estrelas e a ascensão de uma direita mais dura, na senda do que vinha acontecendo em França com a Frente Nacional. Como aconteceu na Grécia com o Syrisa e o desaparecimento do PASOK. Ou na Finlândia recentemente e veremos se confirma na Áustria e na Alemanha com o AfD. E os novos sinais como os coletes amarelos contra Macron e as ações dos defensores de uma nova ordem ambiental de proteção da Terra. Não são gritos de alma, representam novas formas de estar perante a tradicional condução política de países e instituições.
O eleitorado mostra-se carente de propostas que abanem o sistema instalado. Antes que se perca o sentido da democracia importa libertar as amarras do conformismo e deixar o sentimento da mera sobrevivência que preside aos que se mostram integrados mas são incapazes de mudar perspetivas, corresponder a expectativas e encontrar respostas.