O crescimento do PIB do primeiro trimestre de 2023, de 1,6% em termos trimestrais, surpreendeu até o governo que, poucas semanas antes, tinha avançado com uma estimativa de 0,6%. Este valor tem conduzido a uma revisão em alta das previsões para o conjunto do ano, tendo passado para 2,6% no caso do FMI e 2,4% para a Comissão Europeia, superando as estimativas para a União Europeia (UE).

Estes números poderiam ser encarados com optimismo, mas mascaram o que se espera para o conjunto do ano. Na verdade, o crescimento trimestral esperado para os restantes três trimestres varia entre 0,2% e 0,3% segundo aquelas duas instituições, o que é muito fraco. O que se espera é que haja, no fundo, uma repetição do padrão de 2022, em que também houve um primeiro trimestre muito forte, seguido de um desempenho débil. Ou seja, os valores acima da média comunitária devem-se apenas a um valor trimestral invulgar.

Aliás, os valores do desemprego do primeiro trimestre reforçam a anemia para o resto do ano e lançam nuvens preocupantes para o médio prazo. Enquanto a economia revelava um aumento exuberante, a taxa de desemprego subia de forma acentuada, de 6,5% para 7,2%, o que é um pouco incongruente, devendo ser lido como a falta de perspectivas das empresas para 2023.

Mais inquietante do que isso, entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a economia ganhou 24 mil empregos, mas perdeu 105 mil trabalhadores com ensino superior. Que condições de convergência com a UE tem uma economia com baixíssima produtividade e défice de qualificações e que vê emigrar mais de 6% dos seus melhores em apenas um ano?

Aliás o próprio Governo, no Programa de Estabilidade 2023-2027, apresentou a mais fraca taxa de crescimento potencial de médio de prazo desde 2016, de apenas 1,8%, em linha com os valores do FMI.

Ainda que cresçamos umas décimas acima da média da UE, isso não deve ser confundido nem com convergência nem com sucesso, já que seremos sucessivamente ultrapassados por outros Estados-membros da UE e continuaremos a assistir a uma estagnação dos salários e do poder de compra.

Ainda há pouco tempo foi notícia a iminência da ultrapassagem pela Roménia, mas temos de perceber que o nosso fracasso relativo é mais vasto, sobretudo se comparados com países que não são membros da UE e que não recebem nem receberam a excepcional quantidade de fundos europeus que nos foram enviados durante mais de 40 anos.

É o caso da Turquia, com uma economia que era pobre, afligida por sucessivos terramotos e com uma inflação que tem rondado os 70%. Pois em 2000, o rendimento por habitante da Turquia era apenas 50% do de Portugal, mas em 2022 já foi 92% do nosso.

Ser ultrapassado pela Roménia foi difícil de engolir, mas passar a ser mais pobre do que a Turquia será uma maior machadada na baixa auto-estima nacional e um poderoso estímulo eleitoral para os extremismos. Acham mesmo que podemos continuar sem mudar de vida? Quando é que o PS e o PSD acordam?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.