Estava eu a acompanhar as novidades da Ciência, quando vi que Gérard Ligier-Belair e Clara Cilindre publicaram no dia 31 de março um artigo científico esclarecedor de título “How Many CO2 Bubbles Are in a Glass of Beer?” na ACS Omega 2021, volume 6, n.º 14, páginas 9672-9679.
Entalado entre o “Development of a Nucleocapsid Protein-Based ELISA for Detection of Human IgM and IgG Antibodies to SARS-CoV-2” e o “Stereoscopic and Theoretical Investigation of b-Lactoglobulin Interactions with Hematoporphyrin and Protoporhyrin IX” não se dá por ele, e por isso levei mês e meio a dar-me conta deste contributo revolucionário para a sensação gustativa, autêntica ode ao palato, de emborcar uma imperial.
Finalmente compreendi porque uma bejeca me sabe tão bem no pino do verão, nos dias em que se estrela um ovo no tampo da mesa de metal da esplanada. Já agora, que tratamos de Ciência, bejeca é, no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, vocábulo «informal», uma alteração de «[cer]vejeca, diminutivo de “cerveja”», calão para o Temanet, no sítio do Instituto Camões. Quero lá saber, sabe bem na mesma.
Ora, os autores debruçam-se sobre o equilíbrio termodinâmico numa garrafa selada de cerveja entre o gás carbónico dissolvido no líquido e o que está no estado gasoso, no gargalo, e que são libertados quando a garrafa é aberta e a cerveja vertida no copo. O CO2 dissolvido forma microbolhas, em torno de pequeníssimas partículas em suspensão no líquido e de microscópicas imperfeições no vidro do copo.
Para uma cerveja com 5% de álcool e uma concentração de CO2 dissolvido de 5,5 g/L, formam-se dois milhões de bolhas, o dobro das bolhas de um champanhe normal (quem desperdiçaria Dom Perignon White Gold Jeroboam a contar bolhas?) que até tem mais gás, uma concentração de 11 g/L. Isto é importante para a nossa perceção porque os recetores trigeminais e gustativos são influenciados pela dissolução do CO2 através da frequência de formação de bolhas e a sua taxa de ascensão no líquido. Percebi assim também porque a cerveja morta tem um sabor infecto.
Igualmente recente e relevante investigação, liderada por Streltsov e Kang-Da Wu, quebra outra até aqui verdade: que os números imaginários não têm existência no mundo real. Por outras palavras, deixam de ser uma mera ferramenta matemática. Ora, demonstraram eles que os números imaginários são relevantes na determinação de estados quânticos, constituindo “recursos”, permitindo então novas ações doutra forma impossíveis.
Na experiência realizada, sem tais números havia perda de informação sobre o estado da natureza de um fenómeno. Logo, são relevantes no mundo real, portanto existem como diria o filósofo. Os nossos homens são físicos, não são economistas. Se o fossem, sabiam há longa data que os números imaginários existem no nosso mundo. Será que nunca ouviram falar das estatísticas do défice orçamental?