O contexto económico nacional e internacional dos últimos dois anos pressionou as organizações a se transformarem de forma rápida, nomeadamente no que se refere à adoção de novos modelos de trabalho, à digitalização de funções e processos e, à reestruturação de postos de trabalho. Estes processos exigem, normalmente, reajustes às equipas que podem levar ao despedimento de alguns colaboradores, traduzindo-se em decisões complexas e de implementação delicada.

A forma como os líderes atuam durante este período crítico pode ser decisiva para o sucesso das suas marcas, dos seus colaboradores e até do talento que deixa a organização. Nesta fase, a comunicação é chave.

Os despedimentos fazem parte do ciclo de uma empresa, como uma forma de esta se ajustar ao seu enquadramento económico e de inovação. Contudo, ainda que esta possa ser uma situação normal na vida das organizações, deve ser encarada como um momento crítico, que requer muita sensibilidade por parte da liderança, uma vez que os líderes assumem grande responsabilidade sobre o futuro dos profissionais que deixam as empresas. Isto porque se, por um lado, são o rosto da organização e devem reconhecer a lealdade daqueles que se dedicaram à empresa, preparando-os e formando-os para um novo contexto laboral, por outro, têm de assegurar a continuidade do negócio.

Este papel da liderança é especialmente importante se tivermos em conta os estudos da ManpowerGroup, que indicam que: i) as empresas que reduzem em 1% a sua força de trabalho, podem registar um aumento na rotação voluntária de até 31% no ano seguinte e, II) os despedimentos impactam também os profissionais que se mantêm na empresa, podendo provocar um declínio no seu desempenho.

O outplacement é, por isso, cada vez mais, a estratégia adotada para assegurar o alinhamento das estratégias empresariais e de talento em momentos de reestruturação. Ao apoiar os colaboradores que se mantêm e os que saem, a empresa consegue proteger a sua marca e a reputação como empregador, essencial à sua capacidade de atrair talento. Dados mostram que as empresas que oferecem serviços de transição de carreira aos profissionais cessantes, reportam um aumento da produtividade, envolvimento e lealdade entre os restantes membros.

Assim, em momentos de reestruturação e, em especial, quando há uma estratégia de outplacement em vigor, a eficácia da comunicação é fundamental para o sucesso de todas as partes. Os profissionais que se encontram neste processo devem ser envolvidos e ter o conhecimento claro dos benefícios que poderão ter com esta transformação. A recolocação no mercado de trabalho pode ser muito exigente, pois o contexto mudou muito rapidamente e hoje são necessárias skills que o profissional pode ainda não dominar. Ao se integrar positivamente neste programa, que está a par das tendências e oportunidades atuais, é mesmo possível que transite para novos e melhores cargos, em funções com maior procura e, portanto, com melhores remunerações, de forma mais rápida.

Para os que permanecem nas equipas e assumem a responsabilidade das funções que, entretanto, devem ser reatribuídas, é importante que a comunicação seja feita de forma regular e clara, para que entendam as motivações da reestruturação e o acompanhamento que está a ser dado aos colegas que saíram. É importante que estas pessoas sintam o seu compromisso reforçado, pois são elas que irão contribuir para moldar e gerir o novo contexto. A abertura de canais com os líderes e a transparência no processo, ajudará a que não surjam correntes de desinformação prejudiciais ao bem-estar coletivo.

É inegável o peso que uma reestruturação tem numa equipa, começando pela tomada de decisão dos seus líderes. Contudo, estes momentos podem ser, na verdade, oportunidades para potenciar talento que estaria desajustado no contexto de uma organização e que pode contribuir significativamente noutra empresa. A recetividade e positividade com que esta transformação pode ser percecionada por todas as partes, está intrinsecamente ligada à capacidade de comunicação da empresa. Os líderes que entenderem este poder, terão nas suas equipas e nos seus antigos profissionais os melhores recomendadores a novo talento.