Recupero aqui a convenção de jornalistas para decidir sobre que medidas tomariam em defesa da sua classe. Na ocasião, reparei que para além das condições materiais de trabalho também se abordou a saúde mental dos profissionais. Expostos a muitas horas de trabalho e a uma elevada exigência de flexibilidade pessoal, o estudo que foi apresentado nos media mostrava que os níveis de depressão eram elevados.

Não surpreende porque, de uma forma global e transversal, o diagnóstico de depressões e ansiedade ultrapassa já os 30% da população. E, perigosamente, os estados depressivos contínuos, quer devido à vida de cada um quer devido à ausência de tratamento, e até pela não reação do corpo ao tratamento, podem culminar em suicídio. E estas quebras acontecem sem qualquer aviso, de facto.

Gosto de fazer notar, sempre que abordo este tema, e com base na informação da Organização Mundial da Saúde e Sistema Nacional de Saúde, que os suicídios acontecem com maior frequência que o expectável em pessoas acima dos 45 anos, ou seja, apesar dos adolescentes e jovens adultos serem as classes mais vulneráveis a depressões, curiosamente, é numa idade madura que o desapego à vida acontece.

Em Portugal, três pessoas por dia põem termo à vida e sabe-se que a depressão aumenta o risco de suicídio em 20 vezes. Seis em cada dez suicídios foram efetivados por doentes com depressão.

Numa reflexão mais pessoal, não são poucas as vezes em que me observo a pensar nisso. Nuns momentos o pensamento é leve, mas noutros é tão forte que roça o “é agora”. Eu sinto que é uma realidade que pode atingir cada um de nós, mas, como somos todos diferentes, na hora H a “força para o abismo” tende a regredir.

O pensamento é tremendo, a faculdade de pensar é a maior virtude do ser humano, mas, entendo eu, também é uma cruz se não for cuidado.

Os pensamentos simplesmente ocorrem, vêm e vão, ora mais intensos ora mais suaves, e como consequências dessa dinâmica aleatória e inconsciente, surgem as coisas que fazemos mal ou dizemos mal. E depois, tende a crescer em nós sensações pesadas ou negativas pelo que fizemos ou dissemos, que não queríamos ou já não achamos tão bem como naquele momento. É como um fardo que se passa a carregar no sistema mental e com isso voltam os pensamentos.

É um ciclo mental perigoso e por isso urge aprender a lidar com ele.

Todos temos a capacidade de pensar e isso é virtuoso, mas, tem consequências que recaem diretamente sobre o próprio. Até o pensar na própria vida, algo aparentemente importante, mas é outro erro em que se cai frequentemente.

Há quem diga que se sofre no viver, pelo que a vida tem de difícil. Se calhar, o que a vida tem de difícil ou fácil é uma classificação da mente, um juízo fruto de memórias, culturas, educação e por aí fora. O que é difícil para uns pode ser indiferente para outros. Por isso, uns pensamentos levam à morte e outros ficam-se por apenas isso, pensamentos.

Eu, algumas vezes sei, porque penso na morte, mas na maioria das vezes não sei. Uma ou outra vez cheguei a deitar-me e a desejar que a noite resolvesse o assunto. O que nos atravessa dói tanto que apetece desligar. Que bom seria ter um botão nas costas como os bonequinhos a pilhas.

Curiosamente, a dor não é uma dor física. O sofrimento não é físico. É difícil perceber as razões da dor, não é algo factual, mas ao fim de um tempo acabo a sentir algo no próprio corpo. O corpo ressente-se e comunica com sensações. Estas comunicação é muito importante para ultrapassar o processo em si mesmo.

Não adianta fazer nada. É ficar assim e esperar que passe, e passa! É preciso acreditar nisso, confiar nisso e não fazer nada. Apenas esperar que passe, e passa. Mas, infelizmente, o suicídio é uma realidade. É uma solução que muitas pessoas adotam quando os pensamentos tomam conta do seu ser e ganham vida própria.

É aqui que entram os terapeutas, os especialistas, os médicos, enfim, a saúde mental na sua amplitude de conhecimento e técnica, para ensinar a lidar com os pensamentos, para ajudar com medicação e para promover novos hábitos de vida, como a meditação.

E por fim, uma coisa que aprendi com as minhas próprias terapias – o sofrimento vicia.
Vicia e muito, cuidado! Vicia, entre outras coisas, pelo protagonismo que gera em torno dele. É como quem está doente, as atenções passam a estar centradas em quem tem o sofrimento. O sofrimento atrai as atenções dos outros.