O Mundo mudou. O País mudou, as cidades mudaram, as pessoas mudaram, o Cidadão mudou. Na verdade a mudança sempre esteve aqui, mas nunca a esta velocidade nem a este ritmo. Em Portugal, em virtude da nossa dimensão, espírito explorador e predisposição para as tecnologias, a transformação digital está em curso há já algum tempo e temos tudo para que possamos ser o seu laboratório.

A transformação digital não é uma tendência ou uma onda passageira, é uma realidade à qual não se pode escapar e precisa de uma atenção contínua por parte das organizações e governos, das pessoas e das sociedades. Não é um tema que se cinja a um sector, a um País ou a um extracto social, é um tema transversal, que toca a todos e que a todos diz respeito.

E diz-nos cada vez mais respeito pela proximidade que potencia. E não estou a falar só da proximidade entre amigos, familiares e pessoas com mais ou menos afinidades, mas também da proximidade com o poder eleito democraticamente.

Essa proximidade que se tem de medir em dois sentidos. O primeiro sentido é a proximidade da Administração Pública para com o Cidadão, sobretudo a Administração Local, na adequação e conveniência dos serviços que presta ao Munícipe. A tecnologia na era digital veio permitir uma agilização no contacto, uma facilitação da interacção, que é facilmente reconhecida na utilização das redes sociais, das versões digitais dos meios de comunicação social, os social media. Mas veio a ser muito mais que isso.

A identificação inequívoca do cidadão ou Munícipe e o respectivo acesso a informação pertinente e histórica permite a adequação e a personalização do serviço, o que, juntamente com a conveniência dada pela disponibilidade contínua e ininterrupta, característica dos novos canais digitais, vem criar a referida proximidade, em claro benefício do Cidadão. A identificação da entidade digital única que é o Cidadão permite que tecnologias como chatbots (scripts dinâmicos auxiliados por Inteligência Artificial) dêem assistência 24/7 a solicitações de Cidadãos, e este é apenas um pequeno exemplo.

No entanto existe outro sentido desta proximidade, o sentido que reflecte o dever do Cidadão. Os canais anteriormente referidos permitem também uma maior participação do Cidadão nos desígnios da sociedade em que se insere. Com maior informação disponível, torna-se mais consciente a obrigação de uma participação activa, seja ela nos mecanismos criados pela tecnologia disponível, como por exemplo os orçamentos participativos, seja ela pela responsabilidade acrescida de nos tornarmos mais exigentes, mais conscientes e contribuintes naquilo que tem mais valor neste século, a informação.

O mundo digital em que vivemos hoje em dia cria canais, disponibiliza meios, mas quem alimenta esses canais e utiliza esses meios é o cidadão. É o Cidadão que na singularidade do seu comportamento contribui para a definição do que é o bem comum da maioria. A democracia participativa sustentada pela afirmação da voz do povo através do voto quase que é substituída por uma democracia directa, onde cada Cidadão tem o espaço para individualmente contribuir para a imagem do conjunto.

A partilha de informação individual é sempre uma temática complexa e que divide opiniões, mas se for protegido o direito à privacidade, a utilização desta informação tem o potencial de influenciar em tempo real a definição de políticas e a tomada de decisões. É esperado com o novo regulamento definido pela UE que as políticas de protecção de dados venham criar a confiança necessária para que o Cidadão assuma inequivocamente este novo papel nos desígnios da estrutura social em que se insere, a sua cidade, o seu município, o seu País.

Hoje, mais do que nunca, o digital empurra-nos para assumirmos o papel socialmente mais importante de todos, sermos o Cidadão.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.