Devido ao envelhecimento da população e aumento da esperança média de vida, o número de cidadãos seniores, com mais de 65 anos, aumenta todos os anos. Com este aumento, a necessidade de cuidados médicos e pessoais também aumenta – e num ano atípico como este, em que as deslocações aos hospitais são desencorajadas, finalmente em Portugal se debate a importância de cuidados domiciliários, algo já há muito praticado noutros países.

No Reino Unido, por exemplo, a iniciativa do sistema nacional de saúde “HealthCare at Home” promete oferecer um serviço completo em casa, no trabalho e nas comunidades por parte de profissionais treinados, fazendo parcerias com privados, públicos e farmacêuticas para que o processo acontece da maneira mais eficaz possível.

Francisco Miranda DuartePor outro lado, o “The New York Times” divulgou em junho uma reportagem que deu enfâse à importância deste tipo de serviços nos Estados Unidos durante a pandemia, salientando o conflito interno dos trabalhadores privados neste setor, que não querendo abandonar os seus pacientes tinham também receio de regressar a casa ao final do dia.

Para clarificar, estes exemplos representam dois tipos de cuidados ao domicílio: aqueles prestados por profissionais de saúde, que normalmente consistem em serviços de médicos, de enfermagem e outros, como os cuidados pós cirúrgicos, a fisioterapia, a monitorização de sinais vitais e os serviços prestados por cuidadores, que são os serviços que incidem sobre a realização de atividades do dia a dia, como preparação de refeições, tarefas domésticas e mesmo levar os utentes a consultas médicas.

A vantagem trazida por ambos é nesta altura óbvia: a expansão imediata de serviços de cuidados ao domicílio baixará o stresse colocado sobre o sistema de saúde durante a pandemia e dará uma visão de como poderão ser os cuidados de saúde no futuro, depois de ultrapassarmos este desafio mundial.

Mas algo que deverá ser considerado e uma das razões pelo qual este tipo de serviços deverá ter apoio e regulação estatal passa pela saúde dos cuidadores ao domicílio – sejam eles formais ou informais. A verdade é que esta ocupação, cada vez mais importante, está altamente desprotegida em termos laborais e de saúde. A deslocação a vários domicílios de modo a constituir o equivalente a um trabalho full-time aumenta o risco de contágio do utente e do cuidador, algo que poderá ser desencorajador para o prestador de cuidados. Por isto, de modo a que estes tenham o apoio necessário existem alguns pontos que deverão ser tidos em conta:

• Os cuidadores precisam de ter acesso a equipamento de proteção pessoal;
• Os cuidadores deverão ser regularmente testados para o Covid-19;
• Os cuidadores deverão poder usufruir de baixa remunerada, em caso de doença, para que possam sempre exercer esta profissão, sem constante receio de adoecer;
• Nem todos os cargos de cuidados ao domicílio necessitam de experiência médica formal: uma maneira excelente de estimular a economia face ao lay-off seria formar pessoas de outras indústrias (restauração, hotelaria) para poderem prestar cuidados ao domicílio.

O que quer que implementemos no futuro, o importante é perceber que a qualidade de vida dos pacientes depende diretamente da qualidade dos cuidados que recebem, e que não podemos voltar a implementar formas ultrapassadas de prestar este serviço. A pandemia ofereceu uma oportunidade de expandir a força laboral de cuidados ao domicílio de modo a beneficiar aqueles que servem. E no final de contas, uma parte crucial de valorizar os mais fragilizados é valorizar aqueles que cuidam deles.