A Outsystems tornou-se recentemente a segunda empresa “unicórnio” com raízes em Portugal, depois da Farfetch. A tecnológica dedicada ao negócio do low code (soluções simplificadas de desenvolvimento de software) captou 360 milhões de dólares em capital de risco numa ronda de investimento, estando agora valorizada acima de mil milhões de dólares.

A notícia é excelente, antes de mais, para a Outsystems, que, além do elevado montante de financiamento angariado, reforça a sua reputação internacional com o epíteto “unicórnio”. A valorização acima de mil milhões de dólares é um importante chamariz no mercado de financiamento global, que se caracteriza por uma extrema competitividade. Os investidores de capital de risco são muito criteriosos e seletivos nas suas operações, pelo que o estatuto de “unicórnio” pode funcionar como um fator extra de atratividade.

Uma das grandes limitações ao crescimento das empresas portuguesas de elevado potencial é, justamente, a capacidade para suscitar a atenção dos investidores internacionais. Não obstante as suas virtualidades, as nossas empresas inovadoras encontram-se ainda um pouco à margem das grandes operações de financiamento. Isto deve-se à falta de notoriedade internacional quer das próprias empresas, quer do ecossistema empreendedor português. É sintomático, aliás, que os nossos dois “unicórnios” tenham sede no exterior: a Farfetch em Londres e a Outsystems no Luxemburgo.

Deste ponto de vista, somar mais um “unicórnio” é muito positivo também para o ecossistema português. Hoje, a credibilidade dos ecossistemas empreendedores, sobretudo em fase de consolidação, como o nosso, depende muito do número de “unicórnios” a que estiverem associados. Empresas valorizadas em mais de mil milhões de dólares atestam o valor, o dinamismo e a escala de um ecossistema e indiciam que há nele boas oportunidades de investimento. Os “unicórnios” podem, pois, trazer capital internacional para mais empresas.

Ora, o ecossistema português vive, precisamente, um momento em que é crucial estar sob o foco dos investidores internacionais. Temos, hoje, um conjunto de empresas de elevado potencial a necessitarem de ser alavancadas. Feedzai, Veniam, Uniplaces, TalkDesk e Codacy, por exemplo, têm boas perspetivas de se tornarem “unicórnios”. Trata-se de empresas scaleup, com capital captado em rondas de investimento late stage. Já se encontram, pois, no radar dos investidores internacionais, embora ainda precisem de mais músculo financeiro.

Outras empresas há que reúnem fatores de atratividade (produtos inovadores, intensidade tecnológica, potencial de crescimento, equipas qualificadas…), mas carecem de visibilidade no mercado de financiamento. E mais um “unicórnio” de origem portuguesa pode, de facto, ajudá-las a captar a atenção e o interesse de investidores.