1 – Fala-se de reformas antecipadas e de despedimentos na banca como se fala em mudar de camisa. Mas isso é mesmo uma inevitabilidade? É comum hoje encontrarmos filas nas caixas dos bancos ou nos balcões dos mesmos quando se quer tratar de assuntos burocráticos. Isto significa que o serviço ao cliente é pior. Em contraste, e basta falar-se com uma dúzia de trabalhadores bancários e não com sindicalistas, para perceber que o trabalho continua muito depois do horário contratado. Na banca nacional, afirmam as nossas fontes, é comum o serviço para além do horário e isso tem um nome: trabalho suplementar que na generalidade não é remunerado e não é tributado. Temos Segurança Social e Finanças defraudados. Muitos trabalhadores perguntam onde está a ACT.
Para as administrações dos bancos o cenário é diferente – e como já aqui escrevemos há bancos e bancos neste tipo de comportamento e nem todos se regem pela mesma bitola – porque precisam de despedir para equilibrar rácios e contas e o argumento é a alteração comportamental dos clientes e a evolução para o digital. No entanto, tudo não passa de uma falácia. Os bancos digitais existem e têm o seu tipo de clientes, têm as plataformas adequadas para esse trabalho, enquanto os balcões tradicionais continuam com o seu tipo de clientes e não fizeram a reengenharia dos processos. Aliás, os processos na banca são estupidamente improdutivos, e não será exagerado afirmar que estão ao nível do pior que nos aconteceu depois da nacionalização da banca. Efetivamente se alguém quer mudar de produto financeiro num banco português terá de assinar 37 documentos em nome da transparência e isto significa que um terço do trabalho do bancário é estúpido ou – se quisermos ser simpáticos – é trabalho improdutivo. A banca diz que é imposição do banco central e é em benefício do cliente quando este assina a indicar que percebeu o produto e está ciente dos riscos! É para rir perante a iliteracia do cidadão médio sobre a terminologia bancária e seguradora. Em abono da verdade estes papéis da burocracia são para defesa dos bancos porque se existissem há alguns anos possivelmente não haveria lesados do BES e do Banif.
A conclusão da história dos bancários é simples porque não está em causa o esforço no trabalho, nem as oportunidades de mercado para crescer, mas é mais simples mandar para a rua do que reestruturar processos. Faz lembrar a alegoria do moço de recados que subia sete andares para entragar as compras e no final do dia estava naturalmente cansado sem que ninguém lhe dissesse para subir de elevador. Enfim, estamos perante incompetência das administrações que os trabalhadores tentam tapar com serviço suplementar que foge aos impostos e às contribuições.
2 – Alguém gritou que Fernando Medina está a dar casas e o mercado agita-se. O país inteiro está a tentar colocar de pé o arrendamento acessível. Por Lisboa o IRHU parece ter sido um relativo fiasco e têm sido as Câmaras Municipais a gerir o processo. Com os proprietários a arrendarem às edilidades e estas, com autorização do senhorio, a sublocarem a inquilinos finais. Pelo meio a edilidade suporta a diferença de renda pois o projeto é criar uma renda acessível. Do lado dos senhorios ainda há dúvidas pois se no final dos contratos o proprietários não quiser renovar e o inquilino em sublocação não quiser sair, quem irá assumir a responsabilidade? E quando sai o sublocatário e deixa a casa destruída, quem irá pagar?