Um dos painéis da recente Grande conferência Negócios Sustentabilidade 2030 versou sobre “O poder político e a independência das universidades e das políticas na era Trump”. Não estive presente, por isso não sei como foi abordado o tema durante o debate, mas estou certo de que houve unanimidade na condenação das interferências de Trump e da sua administração, na vida das universidades Americanas.

Donald Trump condicionou o financiamento federal das universidades à abolição de políticas DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) no recrutamento de estudantes e professores, ou  à adopção de disposições que visem proteger manifestações de antissemitismo.

O facto é que Trump apresentou-se a votos com estas propostas de forma muito clara e foi democraticamente legitimado. E por folgada margem. A mensagem foi clara: uma maioria do povo americano não quer que o dinheiro dos seus impostos sirva para financiar estas iniciativas e os valores que representam. A questão é, portanto, não tanto acerca de democracia, mas de moralidade. E nestas coisas o português adora ficar do lado moralmente ‘superior’. Sobretudo, quando se trata de falar do que se passa na ‘casa’ dos outros.

No entanto, para falar da casa dos outros com autoridade moral, é preciso, primeiro, garantir que a nossa casa está bem arrumada. O inquérito que a Administração Trump enviou às universidades Portuguesas, parece ter merecido a condenação geral — como se atreve este tipo a mexer com a independência das Universidades Portuguesas? Ora a questão que se coloca é se as Universidades Portuguesas são independentes. Isto não se vê por manifestação de intenções, pelos estatutos, ou pelo que está escrito nos websites das universidades.

Vê-se, acima de tudo, pelo comportamento das mesmas. Nos últimos 40 anos as universidades Portuguesas, de uma maneira geral, abdicaram de ter um papel muito mais activo, acutilante, critico e impactante na vida social, cultural, política e económica de Portugal. Os estudos baseados em evidência, as vozes críticas e construtivas, o impacto concreto nas políticas públicas e no sector privado ficam muito aquém do que devia.

A dependência de recursos face ao Estado ou a um grupo reduzido de empresas, o número de políticos e ex-políticos e familiares que se revezam em cargos de professor, e em conselhos de administração fazem com que as Universidades sejam lugares onde desafiar o status quo e gerar impacto sejam relegados para segundo plano.

As ‘pedradas no charco’ são raramente de académicos que estão em Portugal. Por exemplo, a loucura  à volta do livro de Nuno Palma, professor em Manchester, só se explica com o acanhamento do académico em Portugal. Livros, relatórios e papers que realmente digam “thruth to power” em Portugal — e existe tanto a dizer — quantos conhecem? Pois é. Pelo menos o Trump foi democraticamente eleito e disse ao que vinha. Não é preciso Trump vir desafiar a independência das Universidades em Portugal. Ela já não é grande coisa.