A inflação na zona euro atingiu o seu valor mais alto desde a grande crise financeira de 2008, ao registar uma subida de 4,5%. Nos Estados Unidos, o cenário repete-se e a inflação alcançou a sua variação mensal mais alta desde 1990. Há 31 anos que os preços não variavam tanto.
Estes valores começam a fazer soar os alarmes mesmo nos bancos centrais que juraram a pés juntos que esta seria uma subida de preços transitória e que por isso os empresários e governos deveriam abster-se de subir salários.
Na base da subida de preços está a subida dos preços da energia, petróleo, gás, electricidade, veículos usados e custos com habitação.
No caso dos Estados Unidos, o preço da alimentação demonstra uma aceleração preocupante de 11,9% no ano.
Quando se olha para o preço da energia, constata-se que houve uma subida superior a 23% no último ano. E tendo em conta que a energia está na base de toda a economia, então temos uma séria ameaça ao crescimento económico, uma vez que este custo será repassado ao longo do tempo aos consumidores.
O ano de 2022 ameaça começar com o pé esquerdo e fortes ameaças ao crescimento económico, como o aumento do custo de vida, a interrupção das cadeias de abastecimento, o abrandamento da procura mundial, a que se vem somar o facto de, em alguns locais e sectores, faltarem pessoas para trabalhar.
Apesar do Banco Central Europeu (BCE) prever que a inflação regresse a 1,5% em 2023, existe um efeito de perda de poder de compra irrecuperável que se reflecte no aumento da desigualdade.
Nos próximos dois anos, e num cenário em que a subida de preços se mantenha entre os 3 e 4%, o poder de compra das famílias diminuirá cerca de 10%, caso o apelo do BCE seja seguido, i.e., o não aumento dos salários.
Há dez anos que o paradigma e a dinâmica entre inflação e taxas de juro mudou. Se na primeira década do milénio as taxas de juro e as subidas dos salários compensavam a inflação, a partir de 2011, com a crise de dívida soberana europeia, a inflação tem sido superior às taxas de juro, penalizando os aforradores e as famílias.
Economistas e políticos têm novos desafios pela frente, pois não faz sentido estipular valores para a inflação quando existem biliões de euros a ser impressos e aplicados na economia. Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, alertou que o mundo irá precisar de 100 a 150 triliões de dólares em investimento apenas na transição energética nos próximos 20 a 30 anos.
Ora, se pensarmos que o PIB mundial vai aproximar-se este ano dos 94 triliões, isso significa que temos muita dívida a ser emitida, apenas para garantir a transição energética.
Os próximos dez anos arriscam-se a ser uma década perdida para os investidores que não adoptem uma postura de longo prazo. Esta década coincide com a maior transferência de riqueza na história da humanidade e que marcou uma geração, a dos baby boomers.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.