A recuperação da economia mundial pós-Covid gerou tensões inflacionistas, motivadas essencialmente por problemas nas cadeias de abastecimento e pela recuperação do consumo que se iniciou, quando o mundo se libertou das restrições mais severas impostas pela pandemia, sem que a oferta estivesse em condições de acompanhar o aumento da procura.
De transitória a inflação passou a assumir um caracter de maior permanência com a guerra na Ucrânia, muito ligada ao aumento dos preços da energia e dos produtos alimentares. Mesmo voltando, como se prevê, para taxas de inflação mais consentâneas com os objetivos de política monetária, a recuperação de poder de compra não se fará certamente por redução de preços, mas por políticas salariais e fiscais equilibradas e pelo incentivo ao crescimento económico.
De forma consistente com a situação descrita, o boletim económico de junho do Banco de Portugal projeta uma taxa de inflação de 5,9% em 2022, 2,7% em 2023 e 2% em 2024, valores abaixo dos projetados para a zona euro (6,8%, 3,5% e 2,1% respetivamente), mas que contrastam com a inflação registada em 2021 de apenas 0,9%.
O crescimento do produto, para os mesmos anos em Portugal, prevê-se que atinga 6,4% em 2022, 2,8% em 2023 e 2,2% em 2024. Em 2022 este crescimento é cerca de 3,5% acima do crescimento previsto para os países da área do euro, devido ao facto da recuperação económica pós-Covid em Portugal ter sido mais lenta, observando-se, contudo, previsões para esta zona económica, para 2023 e 2024, que anulam, praticamente por completo, este diferencial positivo.
O aumento da taxa de inflação e o modesto crescimento económico, particularmente quando se tem como objetivo a convergência para com a Europa, colocam à política económica desafios relevantes.
O controlo dos preços da energia, a redução do imposto petrolífero, a contenção dos salários e a manutenção dos escalões de imposto são medidas que têm como objetivo o controlo da inflação. Embora se vejam méritos nas medidas do lado da oferta e se entenda o raciocínio por detrás das medidas do lado da procura, estas últimas, no quadro atual, pecam por ser restritivas em demasia.
O consumo é tradicionalmente um dos importantes motores do crescimento e está atualmente a sê-lo, por efeito de um processo de desacumulação da poupança gerada nos anos da pandemia, cuja taxa alcançou, em 2021, cerca de 13%, o valor mais alto registado desde 2000. Mas, este efeito tenderá a reduzir-se no tempo e o crescimento do produto ficará ancorado essencialmente na dinâmica das exportações, particularmente de serviços. Neste sentido, a redução do poder de compra controla o consumo, mas também faz com que as empresas portuguesas, cuja esmagadora maioria produz para o mercado interno, se vejam limitadas no seu crescimento.
O crescimento é também impulsionado pelo investimento gerador de riqueza que, se for adequadamente distribuída, alimentará o consumo. É, portanto, sensato que se olhem os determinantes do crescimento económico sob várias perspetivas. Resta determinar o equilíbrio entre as medidas de política económica escolhidas e, nesse equilíbrio, a redução dos impostos sobre as classes médias em dose certa, via alteração dos escalões de imposto ou via redução da taxa de imposto em si mesma, aumentaria o rendimento disponível das famílias, o que beneficiaria o consumo, sem necessariamente pôr em causa os objetivos de controlo da inflação e de crescimento das empresas.