A inteligência artificial (IA) não está apenas a redesenhar os limites do possível. Irá também reconfigurar as cadeias de valor e, por extensão, a redistribuição, o poder e as oportunidades de êxito na nossa sociedade. Já não serão só os recursos materiais ou o capital humano que irão ditar os caminhos para a prosperidade, mas também o acesso antecipado às tecnologias de IA mais avançadas.

Neste contexto emergente, torna-se decisivo o momento da adopção da IA. Não se trata apenas de deter tecnologia, mas de aceder a essa tecnologia numa fase inicial para gerar, explorar e aplicar conhecimento de forma mais eficaz. A IA generativa desempenha aqui um papel fulcral, acelerando esta transição ao permitir que as “máquinas” assumam funções cognitivas complexas, incluindo a tomada de decisões estratégicas e a geração de insights transformadores.

A optimização, eficiência e eficácia tornaram-se os epicentros para medir a criação de valor no mundo moderno. Nestas áreas, a IA não apenas se destaca como também encontra o seu habitat natural. Ao contrário da aprendizagem e adaptação humanas, que ocorrem de forma linear, a IA tem a capacidade de fazê-lo de forma exponencial. Este é um território onde a competição humana se torna crescentemente desfavorecida.

É aqui que devemos integrar uma lente crítica. Aqueles que conseguirem acesso inicial a modelos avançados de IA estarão numa posição privilegiada, não apenas para ampliar o seu próprio conhecimento/sucesso, mas também para perpetuar e até alargar as disparidades sociais. Estamos a lidar com uma nova forma de capital que pode ser acumulada e alavancada com uma eficiência sem precedentes, com o potencial de alargar desigualdades contribuindo para uma sociedade ainda mais estratificada.

Os incentivos para a adopção da IA são, sem dúvidas, muitos. Promessas de elevada eficiência, vantagens competitivas, aumento de produtividade e inovação disruptiva são irresistíveis. Contudo, não podemos negligenciar os incentivos sistémicos que podem reforçar as desigualdades já existentes.

Os early adopters (aqueles que adoptam tecnologias emergentes numa fase inicial), deste novo tipo de ‘capital cognitivo’ terão a capacidade de se tornar mais competitivos, fazendo mais e melhor com menos recursos, demonstrando competências diferenciadas que os colocarão em clara vantagem face a todos os outros. Este acesso antecipado, se não acautelado, estabelecerá um ciclo que ampliará desproporcionalmente as vantagens para aqueles que já estão na vanguarda da adoção tecnológica.

Se desejamos que este novo capital seja um catalisador para a inclusão e não para a exclusão, temos a responsabilidade de assegurar que os benefícios da IA sejam distribuídos de forma mais equitativa. Isso implica não apenas políticas inclusivas, mas também a promoção activa de literacia e competências no domínio da IA, permitindo que um espectro mais amplo da sociedade se torne competitivo neste novo ambiente. Caso contrário, corremos o risco de perpetuar uma era onde a inteligência artificial serve como a nova moeda de capital, mas apenas para aqueles que já têm acesso a ela.

À medida que a inteligência artificial redefine as regras do jogo, a questão não é se iremos participar, mas como garantir que todos podem participar. A IA tem o potencial de ser a nova moeda da prosperidade, mas é nossa responsabilidade colectiva assegurar que ela beneficie todos, e não apenas uma elite já privilegiada.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.