São muitas as vozes que apelam à intervenção internacional em Moçambique. É certo que Moçambique precisa de ajuda, sobretudo de ajuda humanitária para matar a fome a tantos que tiveram de fugir de suas casas. Mas Moçambique também precisa de ajuda para delinear uma estratégia contra-subversiva que conduza à resolução do problema que lhe bateu à porta.

É necessário treinar os soldados moçambicanos, mas isso é manifestamente insuficiente se não houver uma estratégia contra-subversiva corretamente gizada. Urge ultrapassar as deficiências das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, a forma como se relacionam com a população e as violações dos Direitos Humanos que praticam. Há que transpor rapidamente a pouca preparação para o combate, o deficiente equipamento, as deserções, a falta de motivação e o baixo moral. Formar soldados sem clarividência sobre o modo como vão ser empregues é uma receita para o insucesso.

É importante ter presente que estas guerras são ganhas com os militares, mas não são ganhas por eles. O governo tem de ter um plano de ação psicológica e de ação social. Tem de ter uma ideia clara de como vai intervir no campo sanitário, religioso, educativo e económico. E de como vai conjugar a ação psicológica com a ação social. Quiçá, este será o domínio onde a ajuda poderá ser mais importante, e que tem sido aparentemente negligenciado. O governo pode ser aconselhado, apoiado, mas tem de ser ele a implementar a estratégia. Ninguém o vai substituir nessa tarefa. Esta desatenção poderá fazer com que a ajuda caia em saco roto.

Há, de facto, uma importante componente externa nos trágicos acontecimentos que têm vindo a assolar o país desde outubro de 2017. A complexidade dos ataques evidencia a mão de atores externos. Contudo, não podemos negligenciar as condições sociais internas que proporcionaram os desenvolvimentos a que temos assistido. É preciso perceber o que o Governo tenciona fazer neste domínio. Pelo que temos assistido, os analistas parecem esquecer-se deste aspeto determinante, que condiciona decisivamente as respostas.

As autoridades moçambicanas não podem passar ao lado da solução de problemas como as profundas divisões étnicas (na região e no país), a pobreza, o desemprego, a desilusão da juventude pela falta de futuro, a desigualdade no acesso à terra, os serviços públicos, etc. Sem entender isto e encontrar respostas adequadas será difícil estabelecer uma estratégia contra-subversiva vencedora.

A expulsão violenta de garimpeiros ilegais pelas forças policiais, com alguns deles a serem enterrados vivos, outros abatidos a sangue-frio, mulheres violadas, casas e bens destruídos entre outras humilhações não tem ajudado. Foi a incapacidade do Estado para lidar com estes problemas que criou condições favoráveis para a penetração dos islamistas. Foi a revolta contra a humilhação e tortura infligidas pelas forças da lei e ordem que levou muitos a juntarem-se ao “Al Shabaab”.

Está ainda por saber qual será a reação dos dirigentes da Frelimo, patrocinadores de negociatas altamente lucrativas em Cabo Delgado, e com grandes interesses nos negócios da exploração das riquezas naturais na região. É que sem se clarificar primeiro este aspeto, o esforço que se fizer a jusante ficará comprometido e condenado ao fracasso.