Até agora, é a melhor cartada política da campanha eleitoral, mas sem sabermos ainda os efeitos finais, que não são detectáveis nas sondagens.
Pedro Nuno Santos, ao ter carregado na tecla de Pedro Passos Coelho durante o debate com Luís Montenegro, fê-lo perder o controlo e sentiu-se o desconforto. E quando, para rebater, compara o último primeiro-ministro do PSD com José Sócrates, aí foi uma perda de pé que não agradou nada ao eleitorado de direita.
O líder do PS estava a colocar Montenegro entre a espada e a parede, numa situação complicada e com uma saída de emergência quase encerrada.
Se Pedro Passos Coelho não aparecesse na campanha da AD, seria uma assombração constante e um dardo envenenado na base eleitoral social-democrata que provocaria ruído e até algum tumulto.
Se, em sentido contrário, Pedro Passos Coelho fosse declarar o apoio público ao seu ex-líder parlamentar, como aconteceu em Faro (a convite do cabeça de lista pelo distrito, Miguel Pinto Luz), era um pesadelo em termos da narrativa criada pela AD da tentativa de “reconciliação com reformados e pensionistas”.
À imagem de Pedro Passos Coelho, e da percepção persistente de que tinha ido mais longe do que a “Troika”, retirando regalias a esse segmento eleitoral, o PS iria contrapor com António Costa, que repôs salários e pensões. Parecia um combate do passado a ser esgrimido por dois delfins que precisam de se afirmar.
Ora, nesta altura, e depois de um ciclo político de oito anos, com dois anos de uma desastrosa maioria absoluta em termos de instabilidade, seria natural que a AD liderasse com fulgor nas sondagens e se sentisse não um cheiro a “napalm” pela manhã, mas uma clara onda de mudança, algo que não é pressentido por ninguém, para já.
Falta uma semana para o fecho da campanha e julgo que os indecisos e baralhados serão em número muito superior ao apresentado nos estudos de opinião, bem como um sentimento de raiva e tensão que não está a ser devidamente captado pelas empresas de sondagens e que leva a que o cenário permaneça muito mais aberto do que em 2022.
Há tendências eleitorais, porém, que ainda estão longe de serem completamente consolidadas. Como diriam os norte-americanos: “too close to call”. Há muito por definir.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.