Tudo o que sobe tem de cair. É esta sabedoria popular que está associada à lei que rege a forma como todas coisas se comportam no planeta de acordo com as leis do movimento de Newton, no fundo o que nos impede de flutuar e nos prende os pés à terra – outra expressão muito popular. No mundo dos investimentos financeiros, depois de um longo período em que esta lei era desafiada diariamente, a normalidade das leis da física parece ter sido reposta. Já os investidores, que nestas situações muitas vezes têm tendência para se comportar de forma exuberante, poderão deitar tudo a perder se tentarem assumir um posicionamento menos racional nas suas decisões de investimento. E aqui é importante perceber até que ponto as recentes quedas representam uma alteração séria do paradigma.

A primeira reflexão que importa salientar é a resiliência do momento económico global, e no nosso caso em concreto, da Europa. A economia mundial deverá crescer em torno dos 4% em 2018 e 2019, de acordo com vários observadores e casas de investimento internacionais, com os países desenvolvidos a consolidarem os bom registos apresentados em 2017 – a Europa deverá crescer entre os 2% e os 2,5%, enquanto que os Estados Unidos poderão aproximar-se de valores em torno dos 3% de crescimento do PIB. É certo que a era das taxas de juro extraordinariamente baixas está perto do fim, a normalização das políticas monetárias está em curso e que isso terá o seu impacto na atividade das empresas, que terão de enfrentar custos mais elevados de financiamento e, consequentemente, maior dificuldade em aumentar os seus lucros. Mas não existem dados fundamentais que suportem uma rápida deterioração da atividade económica em 2018 ou que sinalizem uma recessão no mundo desenvolvido, pelo contrário.

Outra reflexão fundamental está relacionada com os dados específicos das empresas, e as chamadas valorizações das mesmas em múltiplos de preço de mercado (por exemplo, a forma como o seu preço de relaciona com o resultado líquido por ação, o chamado price-earnings ratio, o PER), e que, de facto, mostravam indícios de estar em níveis dispendiosos face às médias históricas, o que implicava uma capacidade de crescimento dos lucros muito exigente, mesmo num contexto economicamente favorável. Também é verdade que a gestão de expectativas dos analistas e observadores de mercado são uma variável importante, e é nas costas destas expectativas que muitas vezes as surpresas – positivas ou negativas – acontecem. Talvez se verifique algum otimismo nas projeções para 2018, mas isso só as épocas de divulgação de resultados das empresas terão capacidade de avaliar. No entanto, os múltiplos de preço a que as praças transacionam neste momento também estão longe de sinalizar uma bolha especulativa nos mercados de risco internacionais.

Por último, e tendo em consideração as reflexões anteriores, falta dizer que a lei da gravidade se aplica aos mercados de risco até um certo ponto. Na verdade, o que a história nos diz é que os mercados não sobem de forma perpétua, mas dificilmente caem à terra e ficam por lá. As recuperações após as correções mais acentuadas são o comportamento mais frequente, sobretudo quando estamos num ciclo de crescimento económico. É certo que dificilmente veremos uma repetição do ano passado. As expectativas são mais moderadas para as economias desenvolvidas, mas estas continuarão a crescer e a recuperar. Tal como as empresas continuarão a crescer e a registar mais lucros do que em 2017, e a ter capacidade para entregar dividendos aos seus acionistas.

O mais provável é que, depois da correção, a gravidade seja novamente desafiada, e os máximos dos mercados de risco novamente testados. Com menos exuberância, é certo, embora com maior suporte e racionalidade do que em anos anteriores.