Jerome Powell, o presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), tem estado na mira da Administração Trump. É entendimento do Presidente dos EUA que a Fed tem espaço para descer os juros e pode ajudar à recuperação da economia americana, que será penalizada pela adoção das taxas alfandegárias e pela incerteza daí resultante.

Ainda esta semana o Fundo Monetário Internacional reviu em baixa o crescimento mundial em 0,5%, porém, serão os EUA que vão pagar a fatura, com uma redução estimada do crescimento de 0,9%.

A discussão das taxas alfandegárias trouxe uma enorme incerteza aos agentes económicos que precisam de previsibilidade. Neste ambiente, as empresas que estão a apresentar resultados reportam incerteza quanto ao futuro, o que originou a atual diminuição no preço das suas ações.

O escalar da retórica nas últimas semanas contrasta com a mais recente acalmia, talvez porque a Administração Trump tenha percebido que o mercado financeiro ficou congelado e que o mercado de dívida também parou, e que sem refinanciamento da dívida não temos economia.

Jerome Powell, que tem um mandato dual – crescimento e inflação – não tem a vida facilitada. Por um lado, o crescimento vai abrandar fortemente e, numa economia endividada, pode ser fatal. Por outro, as taxas alfandegárias têm um efeito na subida dos preços. A expectativa da inflação a cinco anos, por parte dos americanos, aumentou para 4%, o dobro da meta da Fed.

Esta é a grande luta da Fed, ancorar a expectativa de preços que, como vimos há dois anos, pode alimentar-se a si própria. Trump necessita de juros mais baixos para poder tornar a dívida mais sustentável, pois já percebemos que o DOGE – Departamento de Eficiência Governamental não vai conseguir cortar tanto na despesa como inicialmente previsto.

Neste delicado equilíbrio é importante que o presidente da Reserva Federal seja visto como independente, pois é a melhor forma de manter a confiança nos ativos denominados em dólares.

O Banco Central Europeu (BCE), por seu turno, não ajudou nada a Fed, pois ao baixar uma vez as taxas de juro acabou por dar mais munições ao Presidente Trump para este acusar a Fed de inação. Christine Lagarde devia ter esperado e constituído uma folga na redução das taxas de juro europeias, ajudando o seu companheiro Jerome e, ao mesmo tempo, dando a entender que o BCE não está desesperado.

Mais do que palavras de apoio, o BCE precisa de dar o exemplo. Ficar quieto às vezes é a melhor opção.