1. O discurso proferido no 25 de Abril por Marcelo Rebelo de Sousa é, para além de uma lição de História grátis para ignorantes ou crónicos maldizentes da Pátria, um sinal de esperança para todos aqueles que amam Portugal, com os seus defeitos e virtudes.

O Presidente disse coisas simples mas importantes de serem ditas. Por exemplo, que os capitães de Abril não vieram de outra galáxia, foram produto da guerra colonial – coisa que, aliás, é cristalina quando ouvimos entrevistas, à época, dos seus intervenientes, a maioria dos quais tão generosos como mal preparados; nos antípodas da visão idílica que deles perdura cantada por alguns bardos da atualidade.

Num Portugal dominado por revisionistas da História e inquisidores de costumes, corrente apoiada pelos necessários idiotas úteis, sabem bem momentos assim: em que, afinal, descobrimos não estar condenados ao exílio entre gente menor, a pensar que ao nosso lado apenas circulam fotocópias do deputado socialista Ascenso Simões ou outros Torquemadas de trazer por casa.

No 25 de Abril peço sempre a alguém para me avisar quando um determinado personagem acaba de falar. Nessa altura ligo a televisão e regresso aos ideais da minha juventude que, como a do atual PR, passou pelas ex-colónias, no meu caso por Luanda, Nampula e Maputo (dizia-se Lourenço Marques). E este ano valeu a pena.

2. O que vale a pena dizer também, sem receio, é que o 25 de Abril já hoje é um dia tão importante quanto outros, como o da Restauração da Independência, face a Espanha, ou da Instauração da República, que sepultou o regime monárquico. Um pouco mais de tempo – quando morrer o último dos portugueses que o viveu – e será, apenas, um simples feriado, aquele em que se celebra “a Liberdade’’.

O desafio para esta data, cada vez mais indiferente para as novas gerações, é dar-lhe um objetivo para o futuro: a Liberdade não pode ser um dia, no passado, em que voltámos a poder falar livremente, a ter partidos, a debater ideias, a desenvolver um País pobre e triste, com uma saúde feudal, infraestruturas físicas iguais às da Albânia e um aparelho social sem igualdade entre homens e mulheres. Isso foi importante mas já não chega.

O 25 de Abril deve poder significar, a quem o quer verdadeiramente preservar, o momento de assumir uma outra dimensão para a palavra Liberdade: um Portugal com menos desigualdades, sem tanto crime económico, sem tantos desmandos pagos com o dinheiro dos nossos impostos, ou seja, um País mais liberto da oligarquia dos partidos e da incestuosa relação em que eles aprisionaram a máquina do Estado.

Noutro plano, quem assistiu à vergonhosa polémica entre a Associação 25 de Abril e a Iniciativa Liberal pela liberdade de desfilar na Avenida percebe que toda a gente tem um prazo de validade.

O discurso de Marcelo exortou o país a saber viver com a sua História, boa e má, e a racionalizá-la com inteligência – foi ótimo! Falta agora, no dia a dia, que o PR pressione mais no sentido da construção do Portugal do futuro: com menos corrupção, menos compadrio.

O tiro de partida que deu para a criminalização do enriquecimento indevido por parte dos titulares de cargos públicos foi ouvido pelos partidos. Era bom que ‘disparasse’ mais vezes e, como nesta última lição de História, fizesse perceber à grande maioria dos portugueses que, afinal, não vivem sós.