Recentemente, em Cascais, foi organizado o Leadership Summit 2024. Um dos temas em discussão e a que pude assistir via online tinha como mote “Decidir – a arte de saber decidir”, com a boa moderação do maestro Martim Sousa Tavares e com quatro oradores experientes que suscitaram um conjunto de boas reflexões.
O “bom senso” é um dos bens mais escassos que temos na nossa sociedade. E uma das causas para essa escassez são aqueles que falam exageradamente – e que normalmente até só se ouvem a si próprios – e os muito poucos que sabem escutar atentamente os outros. O aliado natural do “bom senso” é o equilíbrio de posições.
Vivemos um tempo em que a berraria e o populismo estão na ordem do dia, para além do acelerado surgimento de conflitos a nível global, factos que, pelo menos a mim, geram uma enorme perplexidade. Infelizmente, estamos numa sociedade em que ninguém ouve ninguém, mas em que quase todos querem fazer ouvir a sua opinião, e as redes sociais são o motor que alimenta a atual conjuntura.
É muito importante saber ouvir os outros em casa ou no trabalho. Uma das causas apontadas para os divórcios ou para os conflitos em ambientes de trabalho, é a falta de comunicação, ou seja, as partes não saberem ouvir, escutar e permitir um espaço de reflexão.
A arte de saber ouvir é uma das competências mais importantes para a liderança eficaz de uma organização. Quando os líderes desenvolvem a capacidade de escutar ativamente, criam um ambiente de confiança e respeito, que promove uma comunicação aberta e sincera dentro da equipa.
Saber ouvir vai além de simplesmente prestar atenção às palavras ditas. Implica entender as emoções, os contextos e as intenções por detrás das palavras. Uma liderança que escuta de forma atenta consegue identificar problemas antes que se agravem, tomar decisões mais informadas e criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sentem valorizadas e ouvidas.
Um líder que ouve diferentes perspetivas consegue tomar decisões mais equilibradas e estratégicas, considerando todos os pontos de vista. Ao dominar a arte de saber ouvir, os líderes não só melhoram o desempenho da equipa, como também criam uma cultura de respeito e apoio mútuo, essenciais para o sucesso de qualquer organização.
A liderança do passado ficou marcada pela imagem de um líder afirmativo que nunca se engana e que raramente tem dúvidas. A marca de liderança hoje é radicalmente diferente daquela que tivemos nas últimas décadas. Todavia, é igualmente uma evidência de que a complexidade das organizações e das empresas obrigou a uma alteração de comportamentos internos. Hoje, um líder tem de estar aberto a um processo permanente de aprendizagem para com isso poder ter uma melhor tomada de decisão.
Uma das coisas que aprendi, há muitos anos, tem a ver com a importância da aprendizagem intergeracional: é tão ou mais importante saber ouvir a experiência dos mais velhos, como as motivações e vontades dos mais novos.
Não tenhamos dúvidas: ouvir, é escutar atentamente.