A guerra das tarifas comerciais estalou entre os EUA e o resto do mundo e, a cada dia que passa, a incerteza e o caos afetam a economia global, gerando ondas de choque nos mercados financeiros. É compreensível que estas notícias dominem as manchetes, mas importa também chamar a atenção para os efeitos dramáticos das decisões de Trump, ao pôr fim aos programas de assistência humanitária internacional.
Para o bem e para o mal, as agências americanas em todo o mundo, especialmente em zonas críticas afetadas por guerra, desastres ou empobrecimento, têm sido essenciais para combater a pobreza e a fome. A administração de abutres que tomou agora posse nos EUA mostra indiferença ao impacto que causa com o término de grande parte desta assistência.
A dependência global da ajuda externa norte-americana é extensa, e importa olhar para os resultados práticos destas decisões.
Em países como o Líbano, cuja realidade conheço, os EUA têm já um longo historial, ao longo de décadas, de cooperação e assistência ao país em tempos de crise. Apoiam o desarmamento de todas as milícias e a implementação das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Desde 2006, o apoio financeiro prestado foi vital para preservar a estabilidade do país e conter a ameaça de organizações armadas radicalizadas. Não atuam só em questões de segurança e defesa, mas também dão acesso a saneamento básico, água potável e cuidados médicos a todas as comunidades afetadas pelo aumento das vagas de refugiados no país.
Existem diversos programas na área da educação que têm providenciado bolsas a milhares de jovens das mais diversas origens e estatutos sociais, dando-lhes acesso à melhor educação nas escolas e universidades americanas de Beirute.
Os EUA são normalmente retratados como vilões a interferir na soberania de outros países, e embora isso seja um facto, a geopolítica mostra que a ação americana tem sido tão abrangente e vital em certas regiões do mundo que o fim abrupto de múltiplas agências e da assistência humanitária irá conduzir a um desastre com uma escala sem precedentes.
Se, por um lado, seremos sacudidos pela tempestade das guerras comerciais, por outro, o mundo não está preparado para um cenário de verdadeira crise, que se pode instalar em grande parte do globo. É preciso tirar os olhos dos números e gráficos e olhar para o que se passa no terreno. É realmente preocupante e assustador.