A Semana Mundial do Investidor é celebrada em diversos países com iniciativas que visam consciencializar a população para a importância da literacia financeira e a promoção das boas práticas do investimento. Desde alertas aos investidores para as burlas e promessas de ganhos às atividades dos reguladores ou das instituições financeiras, sensibilizando para a necessidade do investimento, com conhecimento.

A publicação do Guia do Investidor pela Comissão de Mercados de Valores Mobiliários, de leitura obrigatória para qualquer investidor, teve lugar neste âmbito.

Nele se abordam temas como o ciclo de vida de um investidor desde os 18 anos, o perfil de risco de um investidor, a dinâmica do binómio rentabilidade/risco, o tema dos impostos e os riscos associados aos influencers financeiros, que muitas vezes têm conflitos de interesse, dado que ganham para publicitar produtos financeiros sem os avisos de risco necessários, ou sem o disclaimer de que estão a ser pagos para aquela publicidade.

Apesar destas iniciativas serem muito positivas, há um longo caminho a percorrer. Estamos muito atrasados na educação financeira, como se tem vindo a provar pelas avaliações sucessivas, nas quais Portugal aparece invariavelmente em último lugar, mas também pelo estigma que existe contra o capital e o lucro.

Porque é que as empresas portuguesas preferem o endividamento bancário a estarem cotadas no mercado de capitais? Que empresário aceita estar sujeito ao escrutínio do lucro? É positivo incentivar a literacia financeira, mas também seria ótimo conjugar esses esforços com o desenvolvimento do mercado de capitais português.

Nos últimos anos, a legislação evoluiu por forma a responsabilizar ainda mais o investidor, mas caiu no paternalismo, não incentivando qualquer tipo de risco. Ao mesmo tempo, somos bombardeados com anúncios do jogo online, sejam raspadinhas, apostas instantâneas ou outras, que viciam e delapidam milhões de euros por ano aos apostadores. Importa dizer que as raspadinhas estão acessíveis sem restrições, através de aplicações online, com cartão de crédito, ou outros meios de pagamento online, enquanto a compra de ações ou de obrigações de empresas está sujeita a inúmeros obstáculos.

Por mais iniciativas em prol da literacia financeira que haja, existe um cunho político, nacional e europeu, que é contra o ganho associado ao investimento. Esta é a grande diferença entre a Europa e os EUA, e só assim se justifica que várias empresas americanas, como a Apple ou a Microsoft, valham mais do que o mercado de ações alemão, o DAX 40! Recorde-se que o efeito capitalização e reinvestimento dos lucros beneficia os investidores de longo prazo e não os jogadores.