A limitação de mandatos devia ser obrigatória para todos os quadros dirigentes, em particular, para os que detêm funções executivas.

Ter a lucidez para sair antes do declínio é, infelizmente, um dom raro.

Ninguém mantém intactas as suas capacidades de inovação, entusiasmo, iniciativa e de criação de valor para a sua organização, por um período de tempo alargado.

O declínio ao nível das competências, do cumprimento de objectivos, de resguardo dos valores da organização, é praticamente inevitável, dando lugar à criação de clientelas, negociatas e, no limite, corrupção.

A evolução do conhecimento é tão rápida que torna difícil o seu acompanhamento e actualização, por quadros dirigentes com a responsabilidade e ocupação de tempo, que as funções executivas exigem.

Entretanto, a sociedade vai produzindo quadros mais jovens e mais preparados para o exercício daquelas funções, cujo acesso lhes é negado pela manutenção, em funções, destes quadros históricos.

A utilização da experiência, como argumento para este perpetuar nos cargos, é uma falácia, já que a partir do primeiro mandato, as funções a exercer na organização já não têm qualquer mistério.

Esta limitação de mandatos, no máximo de três, devia ser obrigatória para todas as organizações da nossa sociedade.

Quadros políticos, da administração central e local, gestores de empresas e de organismos públicos, quadros dirigentes de associações, empresariais, desportivas, recreativas e sociais.

E esta limitação de mandatos devia ser absoluta, ou seja, não devia ser permitido iniciar uma nova contagem, após um interregno, nem permitir outras espertezas que violem esta regra.

Como diz o povo, não se deve voltar ao lugar onde fomos felizes.

E se fomos infelizes, ainda menos, pois a tentação para a desforra ou vingança, estará, sempre, presente.

Os factos negativos e absolutamente inaceitáveis, alguns dos quais com actos de corrupção ou de violência, associados, que são relatados diariamente, e que ocorrem em organizações com dirigentes que se eternizam, deviam obrigar-nos a reflectir e tomar decisões.

Este fenómeno assume maior gravidade nos organismos públicos e políticos, e nas associações e entidades sem fins lucrativos, não sujeitos ao mesmo escrutínio das empresas privadas, onde o mercado é um juiz implacável.

Receio que, se não forem tomadas medidas, neste domínio, os casos negativos venham a aumentar.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.