O político que sempre foi considerado um expert na arte política pode acabar num Governo conhecido pelos casos e polémicas, muitas delas a terminar na justiça e a gerar demissões. A memória que fica é a da corrupção a alastrar.
A política em si é pouco interessante para o eleitor, sendo que há políticos que fazem desta arte um nonsense, retirando-lhe importância. Claro que é um erro, mas também é uma estratégia alguém não se importar com o seu futuro político e de todo o seu clã. O primeiro-ministro (PM) deu recentemente uma entrevista, onde assumiu erros e situações em que se “colocou a jeito”, mas não se iria demitir na televisão, pelo que teve, forçosamente, de acrescentar que irá até ao fim da legislatura.
Já aqui escrevemos que o Presidente da República não vê alternativas a este PM, mas vai deixando avisos e “enchendo” com os casos nos vários ministérios, autarquia de Lisboa ou empresas com capitais públicos. Claro que se recuarmos ao período cavaquista, também encontraremos alturas em que as nomeações de familiares foram uma constante, mas agora o discernimento é diferente e as circunstâncias e exigências são superiores.
Estamos com uma maioria absoluta que tem dificuldade em resolver os maiores problemas imediatos, como seja o tema dos professores, das maternidades, das urgências hospitalares ou da habitação e do preço do imobiliário. Acresce o drama da inflação, que gerou a erosão do rendimento disponível e da subida imparável das taxas de juro.
A promessa de legislação ou de incentivos fiscais para resolver o tema da habitação está prometida mas, ainda que sejam medidas de valor, vai levar tempo até que se tornem exequíveis. E na inflação, com destaque para o cabaz alimentar, a opção foi a entrega de subsídios e não de redução de IVA, como aconteceu em Espanha. Ora, a inflação é tão forte que mesmo a redução do IVA já foi consumida, mas a medida em Espanha não deixou de ser relevante.
A verdade é que os preços sobem não tanto por consequência do aumento da energia ou da logística, mas pela necessidade de as empresas gerarem margem. E a subida de juros que o BCE está a impor, e que irá continuar com pelo menos mais 100 pontos base, limita-se a contrair a procura e quem produz antecipa a medida ao reduzir a produção para, desta forma, manter os preços elevados.
O mesmo se passa na habitação. A cedência de terrenos ou de imóveis para habitação com rendas comportáveis só pode ser feita por entidades públicas com dinheiro dos contribuintes. A insuficiente concorrência entre privados irá manter os preços elevados, mesmo com descida de impostos, taxas e cedência de espaços.
Entrámos num ciclo e numa conjuntura onde é crítico ter margem e liquidez, e quem está no fim da coluna é que irá sofrer. Além disso, há falta de mão de obra em múltiplos setores industriais e de serviços mas não se diz que os valores dos salários são insuficientes para manter as contas em dia. Há muitos trabalhadores que labutam para aquecer e não para viver e crescer, e isso é um claro sinal de que estamos no final da cadeia de produção e o nosso trabalho não tem valor.
O fim da industrialização do país e a criação de hubs de serviços mínimos está a gerar novos pobres e uma sociedade menos inclusiva. E, note-se, o PIB cresceu 6,7% em 2022, mas só agora recuperámos números de 2019. Demorámos três anos a equilibrar e a Irlanda precisou apenas de um ano.