Em mais uma das incontáveis entrevistas do Presidente da CIP (Diário de Notícias 11NOV18) assistimos a uma declaração notável. A CIP, pela voz de António Saraiva (AS) aspira muito pragmaticamente a que o PS tenha a maioria absoluta. O registo para memória: “O governo e o PS, pela perceção que, na minha opinião, os portugueses têm da estabilidade política, da bondade de algumas das medidas que o governo, gerindo perceções, lhes transmitiu, tem condições para melhorar. Não sei se obtendo a maioria absoluta ou ficando perto dela. Se assim for, liberta-se ou de um ou de dois pesos. Talvez o país ganhe com isso”.

Comecemos por saudar a dúvida que assalta AS na hora da conclusão. É ajustado o advérbio. E depois alertemos o grande capital, o grande patronato: o voto certo é no PS! Nada de desperdiçar votos em ruins defuntos, como o PSD e o CDS (ou mesmo nascituros mal paridos como o novel de Santana)! Mesmo defendendo “a iniciativa privada, a dignidade dos empresários tal como nós defendemos…” foi chão (para já) que deu uvas. O «PSD entrou numa deriva de liderança (…)” e etc.. “A oposição parlamentar à direita (é verdade, há uma oposição parlamentar à esquerda!) tirando uma ou outra boa medida que tem apresentado, tem sido ausente”. Coitada da Cristas do CDS. Tanto esforço e berreiro, e afinal, nada na opinião avalizada de AS.

Diz mais AS: “Se o governo estivesse mais liberto do peso da esquerda (esta obsessão!) o país ganharia”. É verdade que o país de AS – o país do grande capital – ganhava. É verdade, que o governo não é de esquerda – é um governo do PS amarrado a políticas estruturalmente de direita – legislação laboral, submissão à UE e amarração ao capital monopolista (ver como se despachou um secretário de Estado da Energia que afrontava a EDP e Cia., tal como aconteceu no governo PSD/CDS de Passos e Portas).

“Verdades” para esconder uma mentira. Porque o país dos trabalhadores e do povo português, perderia! Como todos os governos já passados do PS, de maioria absoluta, ou “perto dela”, ou aliado à direita em várias modalidades, sempre demonstraram: o desastre total, nas ruins consequências para os portugueses e na abertura das portas do (des)governo do país ao PSD e CDS.

Uma aspiração de AS: a “greve” dos patrões. “Lamentavelmente, os patrões não fazem guerra (?), não fazem greves”. De facto é uma chatice, mas a Constituição da República pelo artº 57º não permite o lock-out!

Uma descoberta de AS. “Aquilo que é justo não tem cor nem ideologia”. E dá exemplos: “a reversão das leis laborais”. Isto é: se for conforme pretende a esquerda, é injusta, é vermelha e ideológica. Se for como o grande patronato pede e os governos do PSD/CDS e PS fizeram é justa, é incolor e não ideológica! Notável.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.