O sueco Niels Liedholm dizia que “a melhor profissão do mundo é a de treinador de futebol, é pena é haver jogos”.

Sabia do que falava, ele que foi um laureado técnico, porque a sina desta profissão depende sempre dos resultados. Se aplicássemos esta máxima aos juízes, poderia sair desta maneira: “a melhor profissão do mundo é a de juiz, é pena é terem de consubstanciar as suas acções em provas”.

Já não bastam espectáculos circenses bem montados de buscas, detenções para as televisões verem, nem peças processuais meticulosamente escolhidas para manchetes de jornais, o que para muitos basta para condenar alguém. O dano reputacional está feito, o populismo veste a melhor camisola, a opinião pública saliva por justiça e condena de imediato, mas há algo essencial para que haja uma sentença séria e independente que puna poderosos, corruptos, malfeitores e afins: a maldita prova.

Carlos Alexandre e Rosário Teixeira têm um enorme clube de fãs, páginas de apoio nas redes sociais e se calhar até “posters” fizeram deles. Da minha parte, reconheço, e agradeço, a ousadia e coragem de caírem em cima de quem se sentia intocável ou inimputável, mas para o seu trabalho ser verdadeiramente eficaz, tem de ser consubstanciado nas ditas provas. Se não, ficamos com a impressão que temos bons “shows” televisivos, manchetes de jornais que jorram sangue, contudo, se nada acontece, fica materializado aquele dito popular “muita parra pouca uva”. E os maus continuam a dormir em paz.

Se perguntarem aos portugueses a sua opinião sobre o caso Luís Filipe Vieira, a enorme maioria responderá que são tantos os casos judiciais que já o salpicaram que só faltam as ditas provas para o incriminar fatalmente.

Logo, esta tripla (a que acrescento aos dois mencionados o inspector tributário Paulo Silva) não pode falhar desta vez, pois seria um colossal golpe na imagem da própria Justiça.

No dia anterior à detenção de Vieira, o Ministério Público reconhecia o próprio falhanço ao absolver Azeredo Lopes no processo de Tancos, depois de ter sujeitado o ex-ministro ao vexame público e à lama dos condenados precipitadamente durante dois anos.

No mesmo dia, segundo notícias de jornais, ocorreram buscas na EDP, escritórios de advogados e Agência Portuguesa do Ambiente, a propósito do alegado expediente jurídico para fintar o erário público em 100 milhões de impostos aquando da venda de sete barragens a uma empresa francesa. Ora, não pode ser deixada a sensação que a espectacular operação de detenção do presidente do Benfica se realizou naquele dia para servir de biombo ou cortina de fumo de erros da Justiça ou outros interesses.

Se assim for, cria-se a ideia de que, tal como com Adam Smith na economia, há uma mão invisível que rege as acções judiciais em momentos-chave. Num órgão independente tal não pode nunca acontecer. Não pode haver qualquer mácula ou margem de suspeição da parte dos cidadãos face a quem aplica a lei após a obtenção de provas. Porque como escrevia Guerra Junqueiro, “a Justiça não admite reticências”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.