1. Ao longo das últimas duas décadas, pelo menos, o Partido Socialista construiu uma poderosíssima máquina que passa pelo controlo efetivo e permanente de acesso a órgãos de comunicação social, eventualmente pela via acionista, ou pela via de relações estabelecidas ao longo dos anos com jornalistas, editores e diretores, muitos deles com passagens por governos ou entidades da administração pública – seja na máquina da justiça, na magistratura, no Ministério Público, ou na administração pública propriamente dita, onde, de A a Z, incluindo a diplomacia e diplomacia militar, estará gente afeta ao PS.
Também é verdade que o PSD tentou criar essa mesma máquina, mas, claramente com muito menos sucesso. Aliás, com sucesso muito limitado. O objetivo seria contrariar o êxito que os partidos de esquerda tinham junto da comunicação social e em que lhes era atribuído um espaço bem maior que o peso relativo nas urnas.
Para a atual máquina governativa, tudo isto foi um trabalho construído ao longo de anos, desde o governo de Mário Soares, passando por António Guterres, Sócrates e, mais recentemente, por António Costa. E o que acontece com regularidade é vermos membros de gabinetes ministeriais a transitarem para quadros do Estado, e depois ainda nos entusiasmamos com cenas que acontecem na comissão de inquérito à TAP, onde se constata que chefes de gabinetes estiveram em todos os governos PS desde os anos de 95.
Luís Montenegro, presidente do PSD, não tem apenas uma batalha pela frente para conquistar o eleitorado, tem uma autêntica guerra que passa por desvendar e combater casos que, à nascença, envolveram o partido.
Montenegro precisa mais do que empatia do eleitorado, precisa de se desenvencilhar dos casos que construíram a operação “Tutti Frutti”, ou explicar a história dos licenciamentos da sua casa. Estes casos estão a abafar a narrativa de que o PSD é alternativa e deixam o eleitor sem explicações sobre as extravagâncias que se fazem com dinheiros públicos, quer na TAP, quer em outros casos. E está claro que o PS não brinca. Parafraseando o saudoso Jorge Coelho: “Quem se mete com o PS, leva!”
Aquele que é o pior momento político dos sete anos de Governo de António Costa, e com o seu homólogo espanhol Sánchez em queda, acaba por passar entre “os pingos da chuva”, apesar da convocatória do Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, para o final de julho, que se destina a avaliar a situação política e económica do país.
O primeiro-ministro António Costa vai gerindo o dia a dia, as polémicas à volta da TAP, o tema do SIS ou ainda o caso do ministro das Finanças no tempo em que era edil de Lisboa. Estamos perante uma gestão ao minuto, altamente profissionalizada e muito própria de países com alguma dose de autocracia (sem ofensa). António Costa tudo controla, tudo gere e é o poder centrado numa só figura.
2. Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a recente conferência internacional sobre Propriedade Industrial, da responsabilidade do INPI e realizada no LNEC, para sublinhar que “a ligação entre a explosão do conhecimento e as empresas” é reduzida, reforçando a necessidade de investir mais no digital. O aviso do Presidente da República é para levar a sério, não basta a fotografia dos meros objetivos.