(Disclaimer 1: Opto por não escrever sobre uma das temáticas que mais tem ressoado nas redes sociais e que se prende com o insólito de um soit-disant juiz convidar o director nacional da PSP para um combate de MMA. Por mim, há histórias cujo final se antecipa e, quanto a este, não é difícil aceitar que a imagem de mártir que se visa criar possa servir que nem uma luva a uma futura candidatura.

Disclaimer 2: Não tenho ainda decisão firmada sobre o que votarei no referendo a que faço referência infra. Contudo, dúvidas não tive em votar a sua realização porque na Ordem dos Advogados a discussão parece fazer-se ao contrário. Se não há vontade em se promover um debate franco e leal, então resta forçá-lo. Foi o que se fez. Ficam os aplausos para quem o permitiu.)

Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu, a propósito da Revolução de Abril, que se tratou da madrugada pela qual esperou, apelidando-a de “dia inicial inteiro e limpo”.

Nunca me canso de referir que, pese embora os cidadãos o ignorem, os advogados são a classe mais desprotegida que existe e a pandemia veio torná-lo indesmentível. Enquanto outros profissionais pedem o reforço ou a extensão dos apoios, aos advogados restou-lhes, em vão, solicitar para pararem de pagar a sua caixa de previdência porquanto, mesmo nada recebendo, a conta chegava incólume todos os meses.

Surpreendentemente e após anos de luta, o dia 26 de Março de 2021 foi uma espécie de revolução no seio da famosa CPAS, igualmente inteira e limpa e operada ao longo de mais de dez horas de discussão.

Discutiu-se a susceptibilidade de ser sujeito a referendo o regime jurídico da (até agora praticamente inexistente…) nossa assistência previdencial.

Bem sabendo que os poderes há muito instalados nunca pretenderam, sequer, que tal tema fosse objecto de qualquer conversa e, como tal, muito menos que fosse objecto de referendo, o que é certo é que uma maioria de advogados conseguiu aprovar o mesmo. O objectivo primordial foi, apenas, promover o dito debate e aferir se o que pagam se destina, como até agora, a um saco sem fundo que, quanto a contrapartidas, pouco ou nada devolve.

Não tivemos direito (ainda…) a uma verdadeira revolução mas, após uma maratona em AG, conseguimos o direito a que o tema seja objecto de discussão.

Parece algo simples mas importa que se refira que o entendimento tem sido o de que há realidades que, independentemente da sua justiça, não são para ser questionadas, competindo aos que chegam aceitar o que os outros lhes deixam. No dia 26 de Março, os advogados, principalmente em prática isolada, responderam que não aceitam restos.

Agora, resta aos demais viver com isso e cumprir a vontade expressa com a mesma rapidez com que fariam se a resposta tivesse sido a oposta. Mais não se exige, menos não se aceita.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.