Nunca tive este sentimento de orgulho – de ter nascido neste continente – tão definido como agora.
Quando vejo as notícias de Donald Trump tenho ainda maior orgulho de ser europeia. Apesar de, também aqui, termos políticos com cargos europeus importantes que dizem coisas absurdas, que só tendem a dividir ainda mais esta Europa entre Norte e Sul.
A verdade é que querem destruir a marca Europa. Acabar com ela. Dividir os europeus em guerras internas e externas. Mas ela é antiga demais para se deixar cair com atentados.
Lembro-me perfeitamente onde estava quando dois aviões embateram nas torres gémeas de Nova Iorque no dia 11 de setembro. Já passaram 16 anos. Estava a comprar o meu bilhete de avião para Roma, onde fiz um ano de Erasmus, um programa que na época era somente europeu. Lembro-me bem de como foi esse ano vivido em Roma, onde o medo muitas vezes imperava. Onde chegaram a cortar a água com receio de envenenamento, a deixar o Vaticano às escuras devido à possibilidade de um ataque aéreo, a levar tudo e todos à loucura por causa de uma mochila esquecida. Lembro-me de como foi assustadora a minha ida, num aeroporto de Lisboa onde ninguém sem bilhete entrava, e ainda por cima numa noite de trovoada. Coisa de filme de terror. Nesse ano fiquei com fobia a aviões, a talheres a sério nos aviões, a grandes multidões.
Mas estava em Erasmus. Ao mesmo tempo que vivia uma experiência inesquecível nos meus tenros 20 anos, descobri toda uma Europa de várias línguas, tons de pele e diferentes formas de estar. Da Irlanda à Polónia, da Bélgica à Alemanha, de Itália à Grécia, de Espanha a França fiz amizades incríveis num ano em que todos fomos a família de todos. E os do Norte adoravam os do Sul e vice-versa, garanto.
É por isso que, se umas vezes olho de forma igualmente assustada para estes atentados, outras olho de forma revoltada: quem pensam estes tipos que são? A Europa é uma marca fantástica com demasiados anos de história e grandes guerras pelo meio para se deixar vencer pelo medo. Na verdade, o que estes atentados querem destruir é a liberdade, a democracia e os valores que foram tão difíceis de conquistar – não só na Europa, mas em todo o mundo democrático. Acontece que não vão conseguir, porque não vamos deixar.
É também por isso que passámos a semana, e bem, a ridicularizar Jeroen Dijsselbloem. O presidente do Eurogrupo falou, e mal, e a internet respondeu, com muito sentido de humor.
O senhor que vem do país do ‘red light district’… Tem graça. Mas não teve graça nenhuma. Porque o que torna a Europa especial é precisamente esta mistura. Mas convenhamos, nem todos temos a capacidade de o entender. Ah! O Ikea tem, e por acaso é uma marca do Norte, mas que contrata muitas pessoas do Sul, assim para misturar e sair uma coisa gira. Normalmente dá isso. É claro que tudo o que é alemão é bom, dizem, e o que é italiano tem estilo, o que é francês tem glamour e o português é típico, mas nisso estamos quites com ‘nuestros hermanos’. Agora, holandês é o quê? Assim de repente, além de túlipas e senhoras loiras de tranças, ocorrem-me Philips, Heineken e Shell. Portanto, deligue a luz caro senhor, beba uma cerveja das suas e não polua o ar da Europa, que esta semana lhe deu uma lição de luva branca. Há coisas sérias com as quais não se fazem metáforas parvas.
Ah! E, apesar de tudo, cá continuamos nesta Europa fantástica.