O acontecimento político mais decisivo na Europa aconteceu esta semana, mas a comunicação social portuguesa estava distraída.

No 39º Congresso da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), que decorreu em Madrid, Astrid Panosyan, a co-fundadora, com Emmanuel Macron, do partido En Marche, declarou o que era esperado e negociado há mais de um ano: o compromisso do En Marche de juntar-se aos liberais numa frente comum para as eleições europeias em Maio. Por enquanto, a cooperação vai cingir-se às eleições de 2019 e reúne os partidos do ALDE, o En Marche e ainda partidos liberais, progressistas e europeus que se queiram juntar. A colaboração é apenas eleitoral mas, consoante os resultados, terá impacto no Parlamento Europeu.

Do congresso também saiu a decisão de formar uma equipa em vez de apresentar-se um candidato único, decisão reforçada por congregarem vários líderes fortes: além dos líderes dos dois partidos mencionados, oito dos primeiros-ministros europeus são liberais.

En Marche e o partido espanhol Ciudadanos constituem as forças políticas atuais mais dinâmicas no xadrez europeu, tendo conseguido em pouco tempo chegar à liderança, renovar os rostos na política e colocar uma nova geração no poder. Selado o compromisso, e com estes dois partidos como ponta-de-lança, é neste momento a aliança política a concorrer às eleições que mais atenções vai catalisar.

Por cá, mais uma vez preparamo-nos para perder a corrida europeia. Sendo umas eleições que pouco motivam o eleitorado, os candidatos já apresentados pelos partidos são figuras requentadas.

À direita, as perspetivas de acordo entre os diversos players políticos apresentam-se difícieis de concretizar, com o maior deles a colaborar com o Governo em vez de exercer a oposição, os protagonistas não apresentam qualquer novidade, restando aos eleitores uma sensação de fastio, e o populismo está enraizado na atual coligação à esquerda. Assistimos a medidas populistas, umas a seguir às outras, apresentadas pelo Governo sem oposição à medida.

Dezenas de empresas privadas de autocarros prometem deixar de vender em dezembro os passes com desconto para estudantes do ensino secundário e superior se o Governo não regularizar a dívida que acumula desde o início do ano e que ascende aos 13 milhões de euros, montante incomportável para as empresas em causa. É isto o populismo – apresentar medidas eleitoralistas com forte adesão popular, mas colocando-as em prática à custa dos impostos de todos e das empresas privadas.

Nada que não tenhamos já assistido com os manuais escolares gratuitos e os vouchers, em que editoras e livrarias cumprem o mesmo papel, ou os hospitais com a dívida em atraso aos fornecedores a rondar os 450 milhões. Estamos em marcha para uma nova crise.