Há poucos anos, a Maria decidiu criar uma pequena empresa. No processo de constituição da sua equipa, decidiu utilizar incentivos à contratação disponibilizados pelo Estado. Mal imaginava as confusões em que se meteria por ter usufruído deste benefício.

Pouco tempo depois foi notificada pela própria Segurança Social para o pagamento de uma dívida. Certa de ter cumprido todas as suas obrigações a tempo e horas, percebeu depois de algumas voltas e umas poucas contas que o valor parecia corresponder ao que tinha deixado de entregar ao Estado relativo ao benefício que tinha obtido.

Hoje é claro que o ambiente económico e empresarial de um país é claramente afectado pela qualidade dos serviços prestados pelo Estado, nomeadamente pelo sistema de Justiça e a sua linguagem hermética, e não apenas por questões referentes à formação das pessoas, impostos ou outros incentivos. O não cruzamento de informação, neste caso entre organismos do mesmo ministério, pode ser tão nefasto quanto o impacto positivo do cruzamento desta informação, em linha com outras medidas como o preenchimento automático das declarações de impostos ou a facilidade de constituição de empresas.

Desde 2006 que Portugal passou a contar com uma iniciativa de enorme mérito, o SIMPLEX, que na sua versão de 2019 (iSimplex), recentemente apresentada, introduz algumas inovações relevantes.

Se a simplificação, por si só, pode até constituir uma acção intencional de utilizar o que sabemos da Psicologia e do comportamento humano, garantindo processos mais adequados e facilitadores na interacção com as pessoas que deles usufruem, ela não se constitui como o único tipo de behavioral insight que podemos usar. Nesta linha, este novo SIMPLEX assume um conjunto de medidas que usam estes conhecimentos, à semelhança do que alguns (poucos) países já fazem em larga escala.

Há alguns anos que na Ordem dos Psicólogos Portugueses procuramos sensibilizar os decisores políticos para a utilização da ciência psicológica na melhoria do desenho, implementação e avaliação das políticas públicas e este é um passo importante nesta concretização. Quase simultaneamente, organizámos com a Fundação Calouste Gulbenkian e a Secretaria de Estado da Modernização Administrativa uma iniciativa inédita para altos quadros da Administração Pública para a utilização de forma mais sistemática e transversal destes conhecimentos.

É um exemplo entre muitos outros da tarefa de simplificação permanente que o Estado deve estar imbuído de modo a cumprir devidamente a sua missão e, pelo menos, não complicar a vida aos cidadãos – como a Maria.