Na mais recente história da civilização ocidental, o conceito de “meritocracia” fica ligado a Michael Young, sociólogo britânico que defendeu o desenvolvimento de uma sociedade baseada no reconhecimento do mérito como forma de eleger pessoas capazes de assumir níveis de maior responsabilidade nas organizações.

Alguns críticos rotulavam a meritocracia como utópica, ou mesmo catalisadora de efeitos contrários se aplicada de forma universal e dogmática. Por exemplo, se prevalecesse a meritocracia sem mais, correr-se-ia o risco de assistirmos à ascensão de uma classe de sucesso, aristocrática, deixando na base os indivíduos menos capazes ou com características não reconhecidas como mérito, pelos padrões entretanto impostos.

As organizações modernas tendem a ser tanto mais complexas ou heterogéneas quanto maior a diversidade cultural, social, política que as compõem desafiando, a cada momento, a sua capacidade de adaptação à esfera de públicos que lhes são mais próximas, como os seus clientes, os seus fornecedores e outros stakeholders, ou, genericamente, ao macro ambiente.

E quando os padrões instituídos são significativamente alterados por fatores exógenos como uma crise sanitária à escala planetária? O adiamento no ajustamento das organizações a novas realidades, mesmo que não estabilizadas, pode conduzir a um incremento do intervalo que separa o topo da base. Dos que, mais preparados e esclarecidos, se tendem a afastar do conhecimento da nova realidade dos outros. Um aumento das diferenças de conhecimento e de adaptação numa organização pode ameaçar o seu reequilibro, sobretudo quando o choque exógeno é forte.

As organizações de pessoas estão a ser fortemente postas à prova no atual momento de pandemia. A capacidade de adaptação é incontornável para manter as organizações capazes de sobreviver, mesmo em momentos de enorme adversidade. É em situações extremas que se distinguem as organizações que fomentaram uma cultura de meritocracia aliada à tolerância e fomento da diversidade. Nunca como hoje precisámos de uma “meritocracia humanista”. Esclarecida, competente, que ascendeu pelo mérito e pelo sucesso, mas que não se esquece da dimensão holística do ser humano.

Passar por esta provação apela ao que de melhor há em quem tem a responsabilidade de conduzir os destinos das organizações. Um destes dias, alguém me dizia que “isto ainda vai piorar antes de melhorar”. Qual lucidez sobre o processo de adaptação necessário para ter esperança no que depois estará para vir. Atrevo-me a dizer que estaremos capacitados a gerar valor no futuro se não perdermos tempo no presente.

Na formação, na adaptação de métodos de trabalho, na motivação para os objetivos, mesmo que haja necessidade de os ajustar em momentos de elevada incerteza. Não perder tempo no presente é tomar decisões. E neste campo, na história recente, nunca a meritocracia foi tão requisitada como hoje.