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“A minha cidadania mantém-se inalterada”, defende vice-presidente da Aliança

Carlos Pinto falou ao Jornal Económico, por escrito, sobre as acusações do Ministério Público que levaram à suspensão das funções que desempenhava no Aliança e sobre o futuro do partido. Afirma que “o julgamento na praça pública serve apenas para espetáculo e diz que, apesar de “neófito”, o Aliança está “sólido e pronto para seguir em frente”.
28 Fevereiro 2019, 19h43

Conhecia o despacho de acusação do Ministério Público que o acusa de peculato e prevaricação?
Conheci depois de uma televisão o julgar na praça pública. Apenas tive contacto com este processo há dois anos, para uma informação sobre atos já validados sem reserva por um tribunal e sentença transitada em julgado. Trata-se de verdadeiras bagatelas administrativas, relativas a licenciamento de uma casa de família e pareceres de jurisconsultos pedidos pela Câmara sobre diversa matéria, factos passados há doze anos. Tudo depois de devassarem a minha vida e dos meus, com base numa denúncia anónima inacreditável. A partir daqui construiu-se uma história fantasiosa.

Por que diz estar a ser julgado em praça pública antes de os tribunais expressarem a sentença?
As evidências não precisam demonstração. Se se acusa numa televisão sem contraditório, o que não acontece nos tribunais, o julgamento na praça pública sem igualdade de armas é uma farsa e apenas serve para espetáculo e obtenção de audiências.

Diz que tem “saudades dos políticos que eram capazes de se erguer contra os julgamentos na praça pública”. Está a referir-se a alguém em particular?
Não, trata-se de uma abordagem geral. Refiro-me aos políticos da liberdade, que não cedem ao sacrifício dos direitos individuais, a todos os que não se impressionam com a espuma dos dias e a ditadura dos telejornais. Não se pode querer agradar a muitos, sacrificando o direito à presunção de inocência nem que seja de uma única pessoa.

Por que é que decidiu abandonar o cargo de vice-presidente do Aliança?
Perante o sensacionalismo estabelecido, quis mostrar o desprendimento dos cargos e deixar à vontade quem dirige a Aliança.

Como reagiu Pedro Santana Lopes ao seu pedido de demissão?
Com provas de solidariedade, convencendo-me a converter o pedido de demissão em missiva apenas pondo o lugar à disposição.

Acha que tinha condições para continuar a exercer as suas funções?
Se achasse que tinha não pedia a demissão. Conheço o país em que vivo, com imensa gente impiedosa, os chamados “imaculados” não averiguados.

Quem o irá substituir no cargo?
Terá que perguntar ao presidente da Aliança.

Com a sua saída, acha que se abriu uma brecha/divisão no partido?
Não creio. O partido, apesar de neófito, está sólido e pronto para seguir em frente.

Santana Lopes disse este fim de semana que o partido não vai a eleições internas antes das eleições legislativas. Isso é normal num partido político?
Não só normal, como recomendável e prática de quase todos os partidos em ano eleitoral.

Santana Lopes disse que “não faz qualquer sentido o dispêndio de energias em disputas eleitorais ou pessoais ainda por cima sem diferenças políticas que as justifiquem”. Haverá alguém a questionar a liderança de Santana Lopes no Aliança?
Acho isso um disparate. A Aliança é o rosto de Pedro Santana Lopes, sendo o contrário também verdade. E por muitos anos.

Que papel julga reservado à Aliança na vida política nacional?
Uma intervenção da maior relevância. Sabe, esta realidade partidária iria acontecer com o nome de Aliança ou outro qualquer, para preencher o demissionismo e conformismo à direita, dos partidos que
pretensamente a representam: o PSD e o CDS.

Mas que distingue então a Aliança desses partidos?
Olhe, essencialmente o olhar sobre a realidade e o inconformismo, capaz da sua alteração. Ninguém acredita que destes partidos antigos venha um “levantamento” político para alterar a situação de estagnação económica e social, em que Portugal se encontra. E esta estagnação não é só económica, num país que este ano vai crescer menos de 2% do PIB, o que significa que continuamos no caminho para lanterna vermelha na Europa comunitária. Esta estagnação resulta de um Estado permanentemente em situação de “deficit” e não modernizado para a sustentabilidade dos seus principais sistemas de bem-estar da sociedade: a saúde, a segurança social, a educação, a habitação.

Acredita num bom resultado da Aliança nas eleições deste ano?
Acredito, embora sendo um partido novo, devemos dar tempo para a sua completa integração junto dos portugueses. Estive com o mesmo entusiasmo que apenas senti nos primórdios da fundação do anterior partido a que pertenci [PSD]. Acreditei e acredito que a Aliança pode ajudar a mudar muita coisa no nosso país, se consolidar o respeito como partido de direita sem complexos, como tem acontecido nas propostas que vem fazendo e ganhar personalidade para bater o pé a “clusters” e “lobbies” que abusam do poder que têm, sejam eles quais forem.

Mas pretende voltar logo que possa ou o convidem…
A minha cidadania mantém-se inalterada. Veremos, porque muitos dias tem o futuro.

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