“Chefe, onde está a minha mesa de trabalho?”. Um primeiro dia de trabalho poderia começar desta forma. A resposta que cada vez mais será ouvida poderá ser: “Está onde quiser, na praia, em sua casa, no café. Você escolhe!”.

Esta situação é sintomática do conceito Workplace 4.0, que foi introduzido pelo ministro alemão do Trabalho em 2015, tendo por base o contexto do impacto que a sensorização e a transformação digital do mundo na era da Indústria 4.0 trouxe, cada vez mais, à realidade. É sintomático o impacto económico e social que as tecnologias e as diversas plataformas de negócio têm hoje na sociedade e na economia mundial, adivinhando-se transformações ainda maiores “amanhã”.

A transformação digital do mundo laboral está assente na “conetividade” que hoje é possível, nas plataformas de gestão e sensorização disponíveis e na segurança de informação, essencial à competitividade e privacidade das organizações.

O conceito do trabalho das nove às cinco será exclusivo de situações cada vez mais minoritárias nas organizações, passando a regra o conceito do trabalho das 0 às 24. E não se preocupem os mais sindicalistas que os “patrões ostracizadores” não irão obrigar ninguém a trabalhar 24 horas por dia. A mudança está no facto de podermos trabalhar “quando quisermos, onde quisermos, desde que o resultado final apareça no dia certo, à hora exata”.

Esta mudança é de facto radical, instituindo-se a prática efetiva do “trabalho por objetivos” e a meritocracia será mais evidente, isto é, os dados aparecem ou não. Mas tal obriga a que as empresas tenham de ter muito bem definidos os seus processos internos, o que também não é líquido que assim seja. As empresas mais competitivas serão aquelas que consigam garantir uma fluidez de processos claros e partilhados, bem como equilibrar dois fatores essenciais para o sucesso – criatividade e cultura empresarial.

A criatividade é essencial para garantir eficiências e inovações, em contraponto com a rigidez de procedimentos e processos mais explícitos, por necessidade de ter equipas “fora do escritório”, isto é, ter o colaborador “fora da vista”. Será a liberdade de criatividade dada pela empresa que permitirá garantir a resolução de novos problemas, ou a criação e desenvolvimento de novos modelos de produtos e serviços.

O fator cultura empresarial e espírito de grupo irão esvaziar-se ao longo do tempo se a relação entre a empresa e os seus colaboradores se transformar numa relação meramente transaccional. Isto é, se as atividades realizadas não tiverem qualquer componente emocional. Uma distância constante leva ao aumento da frieza e da distância. É assim em qualquer relação.

O ditado “longe da vista, longe do coração” reflete precisamente isso. Não haverá espírito da empresa sem dinâmica de grupo, tribo. A relação será meramente mercantil, eliminando qualquer parceria. É por isso fundamental criar novos mecanismos capazes de ligar equipas e pessoas, com o objetivo de manter os fatores distintivos e o valor acrescentado que uma empresa dá ao mercado, mesmo com uma implementação aprofundada de conceitos Workplace 4.0.

Em termos práticos, o conceito daquilo a que chamamos “trabalho” está em constante mudança e, adaptando uma das muitas e grandiosas reflexões de Charles Darwin, “não serão as empresas mais fortes que sobreviverão, nem as mais inteligentes, mas sim aquelas que souberem adaptar-se à mudança tecnológica do presente e do futuro”.