Recentemente, na tentativa de encontrar algum futuro para o país, tive a oportunidade de olhar de perto para algumas séries longas do Banco de Portugal publicadas em Dezembro de 2021. Um dos indicadores que mais me chamou atenção foi o gráfico de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) médio anual a preços constantes por décadas desde 1950 até 2020.
Começando com valores próximos de 5% nas décadas de 1950 e 1960, esse indicador regista uma tendência descendente a partir da década de 1970, que se torna significativamente mais abrupta a partir de 2000, levando a um valor médio de crescimento anual na ordem dos 0,9% nas décadas de 2000 e 2010, o que é um valor típico de uma economia estagnada.
Nos últimos anos, a partir de 2020 (inclusive), a tendência média tem vindo a melhorar ligeiramente no sentido dos 2%, apesar de um cenário marcado pela Covid, mas ainda falta muito para fechar a década e o cenário geopolítico e económico não se afigura nada favorável nos próximos tempos. Basta uma crise financeira de dimensão média para voltar a colocar a média de volta nos 0,9%.
Dito isto, importa refletir sobre este cenário. Tratando-se Portugal de uma pequena economia bastante dependente do exterior a vários níveis, muito do que se passou nestes quase 80 anos é explicado pelo contexto internacional.
Os fortes crescimentos das décadas de 50 e 60 são explicados por uma estabilidade dos mercados marcada pelo aproveitamento comercial de muita da tecnologia de guerra desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial.
Já o início da trajetória descendente das décadas de 70, 80 e 90 é justificado pelo ressurgir de significativas falhas de mercado à escala mundial, nomeadamente com as crises petrolíferas e crises financeiras que marcaram estas décadas, mas sem terem um impacto fulminante, muito por culpa da resistência criada pela velocidade ainda forte de progresso tecnológico. Finalmente, o colapso das décadas de 2000 e 2010 reflete a manutenção do cenário de falhas de mercado e crises, mas agora num cenário de forte desaceleração do progresso tecnológico.
No entanto, nem tudo é contexto internacional, pois a partir de 1974 iniciou-se um novo regime político democrático em Portugal. Independentemente de todas as virtudes que este regime trouxe, o principal problema que gerou foi miopia de médio e longo prazo para questões económicas estruturais, tal como aquela que foi apresentada acima. Com ciclos eleitorais de quatro anos que geram uma implacável necessidade de satisfazer as necessidades de curto prazo determinadas por um eleitorado cada vez mais envelhecido e avesso ao risco, a nossa classe dirigente política perdeu a capacidade de pensar e, sobretudo de agir, para alcançar objetivos de médio e longo prazo.
Desde 1974, vive-se na espuma dos dias sem qualquer visão estratégica e à procura de salvação divina vinda de fora… investe-se de forma pouco estruturada e quase unicamente na preservação do passado (saúde e segurança social) e pouco ou nada se direciona para grandes estratégias de futuro que exigem sacrifícios de curto prazo… sintoma disto é a evolução e o contributo do stock de capital para o PIB que tem apresentado valores cada vez mais baixos e até negativos nos últimos anos. Num país onde só se investe no passado, não há, nem pode haver, futuro!