No dia 6 de junho de 2024, o Banco Central Europeu reduziu as suas três taxas diretoras em 0,25%:

  • A taxa da “facilidade permanente de depósito” (DFR em inglês), de 4,0% para 3,75%. Estes depósitos têm o prazo de um dia;
  • As “operações principais de refinanciamento” (MRO em inglês), de 4,5% para 4,25%. Estes empréstimos têm o prazo de uma semana;
  • A taxa da “facilidade permanente de cedência de liquidez” (MLF em inglês), de 4,75% para 4,5%. Estes empréstimos têm o prazo de um dia.

Esta redução de taxas diretoras foi “pré-anunciada” pelo Banco Central Europeu (BCE) antes da reunião de 6 de junho e, por isso, já estava refletida nos principais prazos da Euribor (3m, 6m e 12m) que se situavam nos 3,75% antes da decisão do BCE, e não no nível de 4% (DFR) como seria expectável se não fossem antecipadas quaisquer descidas das taxas diretoras do BCE nos doze meses subsequentes.

De acordo com os futuros da Euribor a três meses, o BCE deverá fazer ainda mais três reduções de 0,25% nas suas taxas diretoras ao longo dos próximos 12 meses. A expetativa para a DFR é que esta taxa venha a atingir os 3,0% em junho de 2025 e que, ainda em 2024, possa vir a ocorrer um corte adicional de 0,25%, para além daquele que já ocorreu em 6 junho.

A recente evolução da Euribor

O mercado monetário tem vindo a moderar, em muito, as expectativas de redução das taxas diretoras do BCE, quer em termos do valor acumulado total, quer em termos da rapidez com que estas descidas vão ocorrer.

Ainda recentemente, em janeiro de 2024, o mercado monetário antevia uma recessão na zona euro em 2024 e, por isso, perspetivava que a DFR pudesse atingir os 2,5% já em dezembro de 2024 (seis reduções de 0,25%). Como tal, a Euribor de 12 meses já estava em 3.5%, no final de 2023.

Como funcionam os mercados monetários na zona euro

As taxas Euribor aplicam-se aos empréstimos que os bancos comerciais fazem entre si nos mercados monetários e são determinadas pela procura e oferta de fundos, sem que exista qualquer intervenção por parte do BCE.

As taxas Euribor refletem expetativas para a evolução da taxa da DFR do BCE. Num ambiente de excesso de liquidez no setor bancário da zona euro, a DFR é a alternativa para a rentabilização de fundos em excesso para os quais os bancos comerciais não têm aplicação na sua atividade de concessão de crédito.

Desde 2015 que a “âncora” da condução da política monetária pelo BCE é a “DFR”, a taxa diretora do BCE que remunera os depósitos no overnight.

Desde essa altura, passou a existir um excesso de fundos no sistema bancário da zona Euro. Tal foi consequência da compra, pelos bancos centrais da zona euro (que compõem o Eurossistema), de obrigações que eram detidas pelos bancos comerciais, seus supervisionados.

Em consequência dessas compras, os bancos comerciais da zona euro ficaram, quase todos, com depósitos avultados nos respetivos bancos centrais. Estes depósitos são também designados por “reservas”. Desta forma, as Euribor deixaram de evoluir no “corredor” entre a DFR e as MRO para se “colarem” ao limiar inferior do intervalo destas duas taxas que é precisamente a DFR.

A compra de obrigações pelo Eurossistema foi de tal ordem de grandeza que o tamanho do balanço agregado do Eurossistema passou de mil biliões de euros, em 2004, para 8.5 mil biliões de euros, no final de 2021.

A redução do balanço agregado do Eurossistema

Em março de 2023, o BCE inverteu a política de aumento da dimensão do balanço do Eurossistema, passando a ter como objetivo a redução gradual deste balanço.

Para atingir este objetivo, os bancos centrais que compõem o Eurossistema, depois de já terem anteriormente deixado de comprar novas obrigações para as suas carteiras, passaram a reinvestir apenas uma parte do valor das obrigações que chegam à maturidade e que são reembolsadas pelos emitentes.

Em consequência, a 7 de junho de 2024, o tamanho do balanço do Eurossistema era já apenas de 6,5 mil biliões euros. E, em contrapartida, os bancos comerciais da zona euro já só tinham “reservas” no valor de 3,2 mil biliões de euros nos bancos centrais do Eurossistema quando no final de 2021 esse valor era de 4,3 mil biliões.

Como vão evoluir as Euribor em 2024

Em 13 de março de 2024, o BCE também anunciou que, já em 18 de setembro, irá transitar para um novo modelo de implementação da sua política monetária.

Para estimular a utilização das “operações principais de refinanciamento”, o diferencial entre a MRO e a DFR, que é atualmente de 0,50%, será reduzido para 0,15%, nessa data. Isto irá ocorrer independentemente de vir, ou não, a ser decidida qualquer alteração das outras duas taxas diretoras do BCE na reunião anterior do BCE, em 12 de setembro de 2024.

A principal razão para esta mudança é evitar que, à medida que o BCE proceda à redução gradual do balanço do Eurossistema, até um nível que ainda não consegue antecipar, possa vir a surgir uma situação em que os bancos comerciais da zona euro fiquem deficitários de “reservas”.

E, uma vez que a atividade no mercado interbancário está atualmente em níveis muito reduzidos, o BCE procura, assim, assegurar que, em caso de necessitarem de “reservas”, os bancos comerciais possam obtê-las no Eurossistema através das “MRO” sem ficarem dependentes dos outros bancos comerciais.

Assim, se a inflação na zona euro, atualmente em 2,6%, o vier a permitir, as taxas diretoras do BCE poderão vir a ser de 3,5% na DFR, de 3,65% nas MRO e de 3,9% na MLF, na reunião do próximo outubro. E, nessa data, as taxas Euribor podem já estar abaixo de valor da DFR, na expetativa de descidas subsequentes desta taxa diretora do BCE, durante o primeiro semestre de 2025.