O mais recente Relatório Planeta Vivo da WWF trouxe más notícias: ao longo de apenas 50 anos, os investigadores registaram uma redução de 73% na média das populações de animais selvagens monitorizadas.

A cada nova edição deste relatório, aumenta o declínio da natureza e a instabilidade climática. E, a cada vez, fica claro que a resposta dos líderes políticos é insuficiente para atingir metas ambientais críticas.

As crises climática e de perda de biodiversidade provocadas pelo Homem são duas faces da mesma moeda e ameaçam toda a vida na Terra. Os impactos acumulados de décadas de práticas de extração e consumo de recursos de forma insustentável aproximam-nos de um ponto de rutura irreversível. Os decisores políticos conhecem esse risco, e que muitas dessas ameaças resultam de políticas e práticas empresariais que beneficiam poucos, mas comprometem o futuro de todos.

Em Portugal, faltam medidas ousadas para aumentar a capacidade de sumidouros naturais de carbono, com projeções a revelar dificuldades para atingir a meta de 13 Mt de CO2 no setor de uso do solo até 2050. Setores como transporte e agricultura ainda estão longe de atingir os objetivos de redução de emissões para 2030.

A Lei Europeia do Restauro da Natureza precisa de um plano nacional que identifique áreas prioritárias para recuperação e promova de facto o seu restauro, com financiamento adequado. É essencial que se criem novas áreas protegidas e a melhoria da gestão das já existentes, para formar uma rede coerente de proteção da biodiversidade em terra e no mar.

Os atuais sistemas alimentares são a maior ameaça à conservação da natureza e à saúde humana. Para além do urgente Plano para a Transição Alimentar, ainda falta redirecionar os subsídios atribuídos a práticas prejudiciais, de modo a apoiar a produção de alimentos nutritivos com práticas que respeitem a natureza.

No quadro financeiro plurianual da Política Agrícola Comum 2014-2020, para o nosso país, estavam previstos apenas 3,45 milhões de euros (3,5%) para investimentos na prevenção de riscos decorrentes de calamidades e catástrofes naturais nas explorações agrícolas, comparados com 95,76 milhões de euros (96,5%) destinados à reposição do potencial produtivo agrícola perdido devido a catástrofes naturais.

A transição justa também é um desafio. Em 2020, 34% das pessoas em situação de pobreza não conseguiram aquecer adequadamente suas casas. Além disso, o setor de transportes, um dos mais atrasados na descarbonização, enfrenta desigualdades de infraestrutura pelo território. A transição justa precisa de uma avaliação completa sobre os impactos socioeconómicos e da eliminação de subsídios aos combustíveis fósseis até 2030.

O Relatório Planeta Vivo 2024 é claro: o que fizermos até 2030 definirá o futuro da vida na Terra. Num momento em que se debate o Orçamento de Estado no Parlamento, importa deixar claro que temos apenas cinco anos para mudar de curso e evitar que os danos à natureza e o aquecimento global nos levem a pontos de rutura irreversíveis. O risco de falha é real, e as consequências estão cada vez mais evidentes.

A fatura que todos iremos pagar é grande, caso continuemos a ignorar estas consequências. Este é o momento para que todos — governos, empresas e cidadãos — se mobilizem para financiar, proteger e restaurar a natureza e sua biodiversidade. Apenas assim conseguiremos garantir um futuro saudável e justo para todos.