“É preciso não colocar estranheza onde não existe nada”, Sartre

(Por circunstâncias pessoais, vi-me a braços com uma morte de uma familiar que residia sozinha em Antuérpia. As peripécias por que tenho passado para conseguir que tenha um enterro condigno e a mais do que total inoperância dos serviços do MNE não cabem no número máximo de caracteres de que disponho. No meio de tudo isto, fica num primeiro momento a raiva e, num segundo, o profundo desprezo e a sentida náusea por uma máquina que todos suportamos e que não nos serve minimamente. Tenham vergonha na cara e sejam educados, já que competentes não conseguem ser.)

 

Tenho igualmente assistido aos comentários do meus colegas Advogados ao que de muito errado se tem passado na advocacia entre um sorriso sarcástico e a náusea. Se a inércia de quem nos devia representar não tem o condão de ser inovadora, a desfaçatez com que abandona os seus pares e se propõe a falar de tudo excepto dos que representa (ressalvada, claro, a Associação dos Proprietários, cujos interesses tem abonado de forma consistente) causa-me náuseas.

De um lado e ao contrário dos demais portugueses, para obtermos ajuda perante a Covid-19 não apenas temos de demonstrar o preenchimento dos demais requisitos como, pasme-se, temos que obter trânsito em julgado dos processos que, refere o diploma, temos que intentar contra todos os nossos familiares. Do outro procura-se que o que eram (quase apenas formalmente) os actos próprios dos advogados passem a ser partilhados agora também, entre outros, com consultoras, aquelas mesmo que tanta credibilidade têm no momento de auditarem o que resta dos destroços de bancos quanto na altura de apreciarem as contas aldrabadas antes da respectiva queda.

À laia de resposta, o nosso Bastonário desdobra-se em entrevistas e aparições televisivas, numa lógica de protagonismo pessoal que só surpreende quem não o conhecia antes. Ao contrário do que referia o seu programa eleitoral, o Dr. Menezes Leitão nada faz quanto à CPAS, nem sequer diligenciando para que seja marcada uma AG que discuta efectivamente o nosso futuro, assistência previdencial e reforma incluídas. Mas, indo mais longe, para além do esbracejar – que, por motivos óbvios, pode impor um temor inicial, rapidamente substituído pela certeza que tudo se move mais depressa do que o próprio – nada de verdadeiramente consistente se viu, por exemplo, quanto às tabelas de honorários das defesas oficiosas.

Se  me pedissem para resumir este mandato a uma palavra, escolheria, num primeiro momento, a palavra nada (e mesmo esta tem mais representação do que o que tem sido feito). Talvez, com mais rigor, a resposta adequada seria, de novo, a náusea.

Há, de facto, pessoas que nos dão alegrias. Não podendo ser por terem chegado, será, seguramente, quando se forem. E irão tarde.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.