Após uma década de políticas monetárias ultra expansionistas, a que se seguiu um período de inflação acentuada que exigiu uma resposta agressiva por parte dos principais bancos centrais à inflação pós-pandemia, os mercados financeiros estão agora suspensos entre a esperança de uma “aterragem suave” e o receio de um novo ciclo recessivo.
A economia global atravessa um momento que exige uma necessária redenção económica. Neste momento, a narrativa a nível financeiro gira em torno de três eixos principais: a trajetória das taxas de juro, o impacto da inteligência artificial (IA) nos mercados e a forma como as tensões geopolíticas podem continuar, ou não, a afetar as expectativas dos investidores.
Numa primeira linha de análise, o debate sobre a política monetária continua a dominar. Nos EUA, a principal referência global, a Reserva Federal tem dado sinais mistos. Se, por um lado, o governador Jerome Powell insiste na necessidade de manter a vigilância sobre a inflação, por outro, os mercados antecipam cortes nas taxas já em finais de 2025, dependendo da evolução do mercado laboral e da inflação núcleo.
O BCE enfrenta um dilema semelhante. Embora a inflação esteja a recuar, o crescimento económico permanece anémico, especialmente na Alemanha, a par de sinais evidentes de que a zona euro poderá enfrentar um período prolongado de estagnação se não houver reformas estruturais.
Um segundo tema nesta redenção económica é o impacto da IA nos mercados financeiros. As ações das gigantes tecnológicas, como Nvidia, Microsoft e Alphabet, têm registado uma valorização recorde, impulsionadas pela narrativa de que a IA vai revolucionar a produtividade global.
Porém, também estes ciclos mostram que, historicamente, a adoção de novas tecnologias tende a provocar correções nos mercados financeiros, quando as euforias das expectativas ultrapassam os fundamentos económicos.
Numa última análise, a geopolítica permanece um fator de risco crucial. A guerra na Ucrânia, as tensões no mar do Sul da China e a incerteza em torno da agenda comercial dos EUA criam um pano de fundo de incerteza que os mercados não podem ignorar.
Mais do que os ativos considerados “refúgio”, como o ouro e os títulos do Tesouro norte-americano, importa encaminhar estes conflitos para uma solução diplomática, ou no sentido de acordos comerciais de maior previsibilidade, dando aos investidores como que um sinal de estabilização geopolítica de médio prazo.
É necessária esta espécie de redenção económica para ultrapassar a atual encruzilhada que alimenta a incerteza dos mercados e dos investidores.