O espaço tem sido um palco de acesa competição entre os EUA e a Rússia. Conta agora também com a participação da China. Os benefícios proporcionados no campo científico, tecnológico e militar motivaram as grandes potências a envolver-se na exploração espacial. Continuam a ser tópicos muito importantes, mas os aspetos de natureza existencial e económica associados à sua exploração aumentaram significativamente de importância.

As iniciativas de carácter belicista desenvolveram-se concorrentemente com as de natureza pacífica, de pendor científico e tecnológico. As duas abordagens à exploração do espaço nunca deixaram de coexistir, acompanhando a económica. A par da competição geoestratégica, EUA e URSS, mais tarde a Federação Russa, nunca deixaram de cooperar em ambos os domínios.

São muitos os exemplos dessa cooperação. No dia 17 de abril, aterrou no Cazaquistão o módulo Soyuz com uma tripulação mista russo-americana, apesar da acrimónia existente nas relações entre aqueles dois países. O sonho da “weaponization of space”, acarinhado durante décadas por várias Administrações americanas, não atingiu o objetivo pretendido. Esse projeto teve um novo impulso com o presidente Donald Trump ao criar uma “Força do Espaço”, ao mesmo tempo que passou a considerar o espaço sideral um domínio de operações militares.

Contudo, verificaram-se recentemente dois desenvolvimentos qualitativamente relevantes, um com implicações existenciais e outro de natureza económica, que vieram introduzir novos dados na corrida ao espaço. O primeiro resulta da reação das autoridades aos efeitos avassaladores provocados pela explosão de um asteroide, em 2013, a 22 km de altitude, em Chelyabinsk, na Rússia. O acontecimento veio relembrar que o universo apresenta ameaças para as quais a humanidade não está preparada. Para lá do coronavírus e das pandemias, afinal o espaço também pode ser origem de ameaças existenciais. Aumentaram as preocupações. Aparentemente as agências espaciais dos EUA, Rússia, China e Europa abraçaram um projeto de cooperação neste domínio.

O segundo, prende-se com as oportunidades económicas proporcionadas pela exploração espacial. Referimo-nos, por exemplo, às possibilidades de mineração na lua e à colocação no espaço de centrais para a produção de energia solar, oportunidades económicas a que a China está muito atenta. Não foi por acaso que em janeiro de 2003, uma nave chinesa alunou no lado oculto da lua tendo iniciado o mapeamento topográfico e dos recursos minerais da superfície lunar, e se prepara para estabelecer uma base lunar permanente em 2030.

Em reação a estes avanços de Pequim, Donald Trump assinou no dia 6 de abril de 2020 uma Ordem Executiva (OE) em que, com a expansão da economia americana em mente, abria as portas do setor privado à exploração espacial, e apelava à mineração de asteroides e em particular da lua. Subordinado a este plano, no dia 27 de maio dois astronautas viajarão até à Estação Espacial Internacional, recorrendo a um foguetão construído pela empresa SpaceX, e em 2024 os americanos regressarão à lua.

É interessante sublinhar a referência feita naquela OE à necessidade de estabelecer parcerias e de negociar acordos bilaterais e multilaterais com outros Estados. A nova corrida ao espaço continua a permitir o estabelecimento de pontes de diálogo e de aproximação entre as potências.